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27/10/2015 03h04
WALTER GALVANI ESCREVE SOBRE MARIA ALICE BRAGA E MANOELITO DE ORNELLAS

SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS
                                                                 ​Por Walter Galvani     

      De vez em quando, um grande nome da humanidade extrapola sua simples condição de nosso irmão nesta aventura planetária e lança uma frase que nasce com o condão de significar tudo o que se quer dizer e atravessa os séculos. Assim foi com Winston Churchil, o grande primeiro ministro britânico, quando lhe pediram o que podia prometer para os Aliados do seu país na luta até então desigual com o monstro do mal, Adolf Hitler, na Segunda Guerra Mundial: “Só lhes posso prometer – disse Churchil – sangue, suor e lágrimas!”.  Que frase, que oportunidade, que momento!

    Claro, uma coisa era aquele medonho conflito entre nações dito civilizadas e outra é a situação a que quero aplicar aquela expressão de tanta força simbólica: quero falar sobre a jovem e já com tanta coisa publicada, Maria Alice da Silva Braga, que já tratou de Machado de Assis, em 2008, “Cem anos sem Machado”, ou de Erico Verissimo, “Provinciano e universal” (2006), Mario Quintana  em “Cotidiano, lirismo e ironia” (2006) e até de “Novos Horizontes para a teoria da literatura e das mídias” (2012). E eu me mantendo mais ou menos ignorante e distante deste talento.

    Sim, é verdade que eu já ouvira falar dela, mas acompanhava à distância, seguindo olimpicamente em meu roteiro de “sangue e suor” e algumas “lágrimas”, mas sem poder privar de perto com o seu talento e sua força imaginativa e emocional.

   Rendi-me. Sábado passado, dia 24 de outubro, uma data mágica da nossa história aliás e lá me fui ao Museu de Comunicação Social “Hipólito José da Costa”, sem saber que aquela moça linda e discreta nos reservava uma subida ao Olimpo, em meio ao gris carregado de nuvens desta estranha primavera chuvosa e cheia de ventos e granizo.
    Busquei ao final a sua dedicatória e assinatura no meu volume de “Vida e obra de um ex-presidente da ARI” o subtítulo de “MANOELITO DE ORNELLAS – Jornalista, professor e escritor emérito”, (que entre nós viveu de 1903 a 1969), que tive o prazer de conhecer nos seus últimos quinze anos que nos brindou com sua vida sobre a terra, com todo o seu companheirismo e fidalguia.
    Aliás, o substantivo, adjetivo, título, definição que para ele criei, era a minha maneira de lembrar o quanto ele foi e tudo o que significou para mim e meus contemporâneos, como o fora para os meus predecessores: um “Príncipe”.
     Ou melhor, como expliquei a uma amiga que fiz na ocasião: “Quer dizer: um 'Príncipe' como gostaríamos que o fossem todos os príncipes da história”.
     Por que ele o foi e por que Maria Alice da Silva Braga identificou-o como tal, embora eu nem me lembre se ela usou o termo, mas era o que estava em minha mente. Esta era a imagem que eu tinha dele, construída desde que o conheci na redação do Correio do Pov” em 1955, quando retornando das minhas jornadas profissionais esportivas, pude vê-lo de perto, conhecê-lo e conviver um pouco com aquele senhor de atitudes cavalheirescas inesquecíveis e sabedoria de imperador.
     Esse era o Manoelito de Ornelas que conheci, cujo sobrenome me lembrava um dos fundadores de Porto Alegre e cujo prenome me recordava alguém que se dividia entre lusos e hispanos, os primeiros colonizadores dessa nossa terra adorável.
    E por isso mesmo compreendi as lágrimas de Maria Alice na apresentação que fez do seu herói, do “nosso herói”, e quanto mais ela chorava, mais eu me apaixonava pelo ilustre antepassado de todos os jornalistas gaúchos que se prezam, o que justificava também o apoio da ARI, Associação Riograndense de Imprensa, que se fazia representar por tantos colegas como o Antonio Goulart e a Thamara de Costa Pereira. E eu mesmo, afinal de contas, por isso fora convidado para estar à mesa, junto com a Débora Mutter e, com “ela”, a mágica Maria Alice.
     Saí daquela cerimônia motivado para ler o livro, coisa que fiz em menos de 24 horas e que logo foi meu candidato à releitura por recear haver perdido alguma coisa especial, na pressa e na corrida do fim de semana.
     E foi então que compreendi que o que eu perdi é irrecuperável: a figura e a pessoa humana de Manoelito de Ornelas.
     Maria Alice colocou-o de pé outra vez. Ele está vivo e com sua memória agora perenizada na doce figura do “príncipe dos pampas” que saiu lá da sua “terra xucra”, lá do seu rincão natal, para atravessar estes últimos cem anos e postar-se diante de nós com altaneiria e meiguice e nos lembrar que ele, sim, conseguiu casar o que de melhor havia na província e lá na distante Europa.
    Ou, como procedeu Maria Alice ao traçar os limites da esfera dos sonhos e encontrar este personagem imortal, dele poder-se dizer o que ele próprio assinara: “Dominamos pelo espírito a paisagem do mundo para melhor sentirmos os dramas humanos, nessa solidariedade que transcende as convenções territoriais. Mas, pelo complexo cultural, estamos presos à tradição do meio em que surgimos, ao grupo racial de cujas marcas características somos portadores, à terra que nos oferece aos olhos as primeiras visões de beleza.”
     Tudo isso e muito mais, no magnífico trabalho de Maria Alice da Silva Braga, em edição da Megalupa, com introdução de Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite e prefácio de Ercy Pereira Thorma, que ajudam a situar o texto, o personagem e a grandeza do “Príncipe” Manoelito de Ornellas a quem se tem a honra de reverenciar

                    Walter Galvani, gaúcho, é jornalista e escritor

Publicado por Landro Oviedo
em 27/10/2015 às 03h04
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