"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
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Textos
UMA PROFISSÃO SEM FUTURO
A recente agressão física de um aluno a professores da rede pública em Porto Alegre recoloca a questão do futuro da educação. Mario Quintana já dizia que "maltratar os poetas é indício de mau caráter". Por analogia, pode-se dizer que os professores se enquadram no dito.

É perceptível que o professor se transformou em "pau para toda obra", seja na escola pública, seja na escola privada. Tornou-se um indigente na pública e um mero prestador de serviços a clientes nesta última. Não raras vezes, um único indivíduo, por trabalhar em ambas, assume os dois papéis que lhe são impostos.

Nos dois casos, o professor é apenas coadjuvante num processo dito artificialmente "essencial" pelos governantes e tido como de custo-benefício para os pais e responsáveis, estes mais interessados na aprovação do que na parceria com os "profes" para educar seus filhos. Os alunos, nisso, vêem a incoerência na mensagem do Quixote que lhes tenta ensinar coisas que ninguém valoriza ao redor deles, e essa medição mascara a ausência de reflexão e de generalização que lhes banaliza o cotidiano e os condena ao descampado das idéias. As conseqüências disso, claro, são terrivelmente previsíveis.

Em meio ao impasse, o professor vê, progressivamente, sua vocação desmoronar, com seus ideais colidindo com a realidade embrutecedora. Agressões, autoritarismos, arrochos, dívidas, manipulações e o escárnio da sociedade ou a comiseração, que também fere, incorporam-se ao seu cotidiano. Nisso, esvai-se a auto-estima. Resta um soldado combalido, combatendo mais por dever de consciência que por um imperativo da esperança.

O fato é que a profissão de professor não tem presente hoje e, tudo indica, não terá futuro. Os governos, os clientes, os pais, a sociedade em geral, ainda tentarão lhe dar uma sobrevida. Contudo, a julgar pelo número de inscritos nos vestibulares para as licenciaturas, cada vez menos jovens acreditam que será diferente. E não se pode culpá-los. Se os responsáveis pela educação não aprenderem a respeitar seus mestres, é provável que a educação não venha a ter uma segunda chance. É possível até que os professores, na tentativa de defender o seu último reduto de dignidade, tenham de colocar um cartaz na entrada das salas: "Entre sem bater".

Correio do Povo
Porto Alegre - RS - Brasil
PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 3 DE NOVEMBRO DE 2000.


Veja também:
www.cursodeportugues.zip.net
(Curso de Português)

www.megalupa.zip.net
(Jornal Megalupa)
Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 06/03/2012
Alterado em 10/03/2012
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