"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Textos
A LINGUAGEM RUDIMENTAR NA INTERNET
A expressão é a principal conquista da humanidade na sua experiência de vida sobre a Terra. Nada pode se comparar a isso. Tanto é assim que não dá para dizer que se pode pensar o homem sem a linguagem. A linguagem é a medida do homem, o homem é a sua linguagem. Só existe o que pode ser nomeado, o que pode ser dito, o que pode ser transmitido pelo signo lingüístico.

Nossa expressão deve sempre ser depurada, melhorada, aprimorada, para que possamos com ela fazer frente aos desafios da existência. Com ela percebemos a nós mesmos, ainda que com deficiências, e percebemos o outro, interlocutor e personagem do enredo e da trama nos quais desfilamos nossas ações no teatro da vida.

Mas nossa linguagem sempre enfrentou barreiras na busca de melhor performance: educação ruim, pouca capacidade de abstração, inafeição à leitura, a sociedade predominante verbal quando a cultura é majoritariamente letrada. Agora a Internet veio a agravar o quadro pouco animador.

Na Internet, principalmente nas salas de bate-papo, tenho visto coisas de deixar de cabelo em pé qualquer um que tenha uma maior preocupação com o aprimoramento da linguagem. E olha que não sou um professor do certo e do errado, pois costumo trabalhar com conceitos de adequado e não adequado, ou seja, aceitando registros lingüísticos de acordo com sua situação de uso. Assim, uma reunião de amigos admite uma linguagem mais descontraída. Já uma solenidade, uma expressão mais formal.

Mas o que tenho visto nos chates e emeios é deveras preocupante. Indica que os internautas não têm como se adequar a situação nenhuma. A linguagem deles é aquela, de uma indigência mental muito intensa. É indiciária de uma despreocupação cultural sem paralelos. Se a linguagem é o veículo do pensamento, então eles andam com o carro dos Flintstones.

Talvez um adepto da lingüística enxergasse nessa expressão as bases de uma nova linguagem, pois cada um vê o que quer, como estou vendo agora. Talvez dissesse que isso é linguagem popular e que tem que ser valorizada. Que a linguagem que eu defendo seja a linguagem da classe dominante. Que a imposição da gramática é uma postura autoritária. Que o plural não está em crise, pois o artigo o evidencia ("os carro"). Já se disse tanta coisa!

Todavia, eu me recuso terminantemente a achar que eu tenha algo a aprender, em termos de rebuscamento da expressão, na eterna luta entre palavra e pensamento, com os acomodados, com os que odeiam ler, com os que se orgulham de sua imbecilidade. Já tive homéricas discussões com colegas meus acerca disso, pois a posição paternalista dos professores de português, ainda mais depois do famigerado construtivismo, está bastante em voga. Eu sou daqueles que acham que não se aprende com a mesma facilidade de quem vai a um parque de diversões ou a um jogo de futebol. Não existe isso! Aprender demanda esforço, aplicação, disciplina, paixão pelo novo, por queimar pestana diante dos livros, por uma libido cultural. Não se pode cobrar isso de todos, mas não se pode achar que a razão está com Macunaíma.

Na linguagem da Internet, predominantemente escrita ainda, os vácuos dos usuários da língua preenchem rios de desilusão, tanto na fonética quanto na ortografia. Vejamos a seguir alguns exemplos:

* "Você", na melhor das hipóteses, vira "cê". Isso quando não vira "se", "c"...

* "Simplesmente" vira "simplismente", simplesmente...

* "Quem" vira "kem"...

* "Mas" vira "mais"

* "Porque" vira "pq" e "tudo" vira "td"...

* "Faz" vira "faiz"...

* "Faço" vira "fasso"...

* Há um riso ilogicamente traduzido para "KKKKKKKK"...

* "Ch" vira "x", como "xave", "xamar"...

* "X" vira "ch": "deichar"...

Esses exemplos indicam uma crise de expressão, que se evidencia por todos os lados. Os "sons" guturais das vítimas não devem servir para erigi-las em culpadas. Todavia, dar-lhes cordas e legitimar esse uso meramente fônico de "Ivo viu a uva" da linguagem é coisa de quem gosta do povo assim, sem ler nas linhas e nas entrelinhas. Quem escreve mal pensa mal, entende mal, vota mal. Cês mi intendem, naum?

11/04/2006

Veja também:
www.cursodeportugues.zip.net
(Curso de Português)

www.megalupa.zip.net
(Jornal Megalupa)
Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 06/03/2012
Alterado em 10/03/2012
Comentários
Eventuais recebimentos