"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
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POR ONDE ANDARÁ APOLINÁRIO?
Nós, que cultivamos as letras, por certo já nos deixamos inocular pelo vírus da sucumbência geral que ronda esta sociedade em crise e sem memória. Recentemente, vários monumentos foram depredados e confinados, sem qualquer reação visível por parte da intelectualidade. Entre eles, está o busto do escritor, pesquisador, professor, historiador e ativista cultural Apolinário Porto Alegre (1844-1904), um dos fundadores do Partenon Literário (1868-1886), marco sistemático e inovador das letras rio-grandenses no século XIX. Estava na praça Argentina, na Capital, de onde saiu para não ser mais visto.

O Partenon Literário tem na constituição a operosidade e a genialidade imprescindíveis do mestre Apolinário, que reuniu à sua volta a escassa intelectualidade da época a fim de empreender uma cruzada para elevar a acanhada mentalidade cultural da província. Criaram escolas noturnas, bibliotecas, museus, difundiram o teatro, lutaram pela abolição, propagaram a República, incentivaram a autonomia da mulher, lançaram as bases do regionalismo e cultuaram as musas. Era uma orquestra e seu maestro.

E por falar em República, Apolinário Porto Alegre, junto com o major João Cezimbra Jacques, precursor do movimento tradicionalista, além de outros idealistas, formou um grêmio pró-República em 1871, sendo vanguarda na propagação dos ideais republicanos, em contraste com os sempre inevitáveis adesistas de última hora. Foi, ainda, ao lado do tribuno Gaspar Silveira Martins, um líder e uma vítima nos conflitos de 93, tendo sofrido as agruras do exílio.

Caldas Júnior, fundador do Correio do Povo, evocando o antigo professor, por ocasião de sua morte, depôs que "era vasto o seu saber, como era enorme o seu talento, que por aí se expandiu, em jorros de luz, na cátedra de mestre, nas ciências, na literatura, no livro e na imprensa".

Seus últimos anos foram vividos na famosa Casa Branca, no Morro Santana, na Capital, antigo quartel-general e hospital dos farrapos. Ajardinou-a, acresceu-lhe lindo pomar e elegeu-a como cenário do outono da vida, em meio a livros, poucos amigos e muitas lembranças, ficando conhecido pela alcunha de "o solitário da Casa Branca".

Agora, o solitário da Casa Branca está mais solitário que nunca. Sua estátua está queda e muda em alguma repartição municipal. É certo que seu monumento merece o tombamento, mas não o do sentido literal, que se traduz em esquecimento e em indiferença.


Correio do Povo
Porto Alegre - RS - Brasil
PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 3 DE OUTUBRO DE 2003.



Veja também:
www.cursodeportugues.zip.net
(Curso de Português)

www.megalupa.zip.net
(Jornal Megalupa)
Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 06/03/2012
Alterado em 10/03/2012
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