"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
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CURIOSIDADES E "ERROS" DA LÍNGUA ESCRITA
A língua nossa de todo dia é, realmente, inculta e bela, digna de juntar diamantes com pedras não tão preciosas assim. Nós, os que amamos a identidade que ela nos lega, somos levados a um mundo onde nossos passos nunca são tão firmes como desejaríamos, mas onde somos brindados com verdadeiras miragens que encantam o olhar dos viajantes enternecidos.

Um dos muitos processos linguísticos que me seduzem está na palavra embarcar, que, com sua extensão semântica, nos permitiu sair de um singelo barco para tomar assento em um trem, em um avião, em um ônibus e mais modernamente em uma nave espacial. Por vezes, embarcamos até mesmo em uma canoa furada, literal ou metaforicamente.

Nunca deixo de citar, também, a palavra latente, que, para muitos, é algo que está exposto, à mostra. Seguidamente, lemos frases como esta: "Os problemas eram latentes e exigiam uma solução". Nesse caso, "problemas" aparece como explícito, mas latente quer dizer exatamente o contrário. Trata-se de algo que está dissimulado, oculto, disfarçado. Em que momento esse vocábulo passou a incorporar seus antônimos? Mistério.

Igualmente, não posso deixar de citar a expressão "o mesmo", talvez a recordista de empregos indevidos. Tal locução, impressa nos elevadores, nunca pode ser sujeito nem retomar um termo anterior. Assim, sentenças como "O mesmo entrou na sala" ou "Deixei de falar com o mesmo" devem ser evitadas.

Talvez para os linguistas, retratistas da linguagem, apontar desvios da norma culta seja ratificar um patriarcado presente na coerção linguística. Entretanto, modelos de bem escrever e de bem falar são universais linguísticos ao longo do tempo e ajudam a preservar uma unidade semântica e cultural. Os vocábulos e as regras sintáticas são preexistentes aos falantes e compreender a ambos é uma forma de se inserir num contexto no qual vamos fazer nossa história de vida. Para isso, é preciso conviver bem com as palavras, nossas janelas para o mundo.


Correio do Povo
Porto Alegre - RS - Brasil
ANO 117 Nº 81 - PORTO ALEGRE, TERÇA-FEIRA, 20 DE DEZEMBRO DE 2011.


Veja também:
www.cursodeportugues.zip.net
(Curso de Português)

www.megalupa.zip.net
(Jornal Megalupa)
Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 06/03/2012
Alterado em 10/03/2012
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