Artigo da professor e doutora Maria Alice Braga sobre o tríduo memorialístico do escritor itaquiense Manoelito de Ornellas. Clique abaixo para ler:
https://rl.art.br/arquivos/7461647.pdf
Jair Bolsonaro precisa de mandato para escapar de seus crimes.
Ritual, pampa de cantares
Clarão, protesto e bandeira
É a milonga missioneira
Se esparramando nos ares
E as violações seculares
Seguem sendo sempre atuais
Nos quatro pontos cardeais
Vão se agrandando os problemas
E as evidências supremas
Das injustiças sociais
Meu comentario:
Nesta estrofe, o poeta legitima a milonga missioneira como legítima forma de protesto e ressalta os problemas gerados pelas disparidades sociais numa sociedade injusta.
Neste mundo imediatista
De convulsões e procelas
Um payador guitarreiro
Para o tempo abre cancelas
Sociedade é vaca magra
Cheia de bicho e mazelas
Meu comentario:
Aqui temos a inconformidade do poeta com os aproveitadores que sugam as riquezas produzidas pela coletividade. Não é demais lembrar que o professor Sílvio Júlio dizia que, para cada idealista, temos milhões de sacripantas.
São temas do meu ofício
De cantor sem fantasia
Que avultam a terra toda
Sem pátria e sem geografia
Reclamando na guitarra
Maus tratos na ecologia
Meu comentario:
Neste sexteto, o poeta toca num ponto fundamental, a defesa do meio ambiente. Essa música é muito atual num momento em que o governo de Jair Bolsonaro desarticula a defesa da Amazônia e incentiva grileiros, desmatadores, mineradores e traficantes de madeira a destruir a floresta.
Genocídios, extermínios
Que ecoam por aqui
Ideais colonialistas
Do Amapá ao Tuiuti
E o massacre feudalista
Da minha raça guarani
Meu comentario:
Que estrofe brilhante e visionária! O governo de Jair Bolsonaro boicota a vacinação, proíbe a assistência à saúde dos índios e até a entrega de água potável, além de incentivar a mineração nos rios das terras indígenas e um avanço de "bandeirantes" que levam doenças e desgraças às aldeias. Quadro completo de um genocídio anunciado e perpetrado.
O cantor pulsa a guitarra
Contra a ganância ilusória
Dos que massacram a terra
Pobre povo e luta inglória
É um veneno o pão escasso
Da lavoura predatória
Meu comentario:
De novo o poeta acerta em cheio. O agronegócio destrói o bioma pampa com a agricultura destruidora da natureza e o emprego de agrotóxicos nocivos à saúde e ao meio ambiente. Um exemplo é a extinção gradativa da espécie das abelhas. E o Rio Grande do Sul continua a permitir ofensivos agrícolas proibidos no mundo todo.
Liberdade é o bem maior
Impulso de pátria e chão
Forjada na nossa alma
Com força no coração
Suprimir a liberdade
É a pior poluição
Meu comentario:
Excelente comentário genérico, mas importante. Já dizia Cecília Meireles: "Liberdade é uma palavra/Que o sonho humano alimenta/Que não há ninguém que explique/E ninguém que não entenda". Sem esquecer que Bolsonaro diz que é melhor perder a vida que a liberdade. Mas o melhor mesmo é ter a liberdade de discordar de uma asneira dessas.
Assim quero ver a pátria
Andar por trilha singelas
Pátria não é sociedade
São ânsias verde e amarelas
Queremos una e liberta
Sem bichos e sem mazelas
Meu comentario:
Finalizando, o poeta estabelece um conceito de pátria liberta para além das convenções sociais, um reflexo de vontades morais reunidas. Coisa difícil nos tempos atuais, quando um presidente diz que o Brasil está acima de tudo, menos de sua família organizada. Mas o pajador pode e deve ser impositivo, não é mesmo? E agora, para finalizar e para quem tiver interesse de conhecer essa música de atualizada rebeldia, deixo o linque abaixo. Obrigado a todos.
No Caderno de Sábado, do Correio do Povo, p. 6, edição de 4.12.2021, artigo publicado pela professora Marisa Piedras sobre o mais recente livro de poemas da escritora Claudete Morsch Pereira Soares.
Para ler, clique abaixo:
Este trecho de Somerset Maughan sobre os ingleses é genial.
"Os ingleses, o que quer que tenham sido na era elizabetheana, não são uma raça amorosa. O amor, neles, é mais sentimental que apaixonado. É claro que são suficientemente sexuais para os fins da reprodução da espécie, mas não podem dominar o instintivo sentimento de que o ato sexual é repugnante. São mais inclinados a considerar o amor como afeto ou benevolência do que como paixão (...). O inglês é a única língua moderna em que se julgou necessário tomar de empréstimo ao latim uma palavra de sentido pejorativo, a palavra "uxorious", para o dedicado amor de um homem à sua esposa. Que esse amor possa absorver um homem, afigura-se-lhes indigno. Na França, um homem que se arruinou por causa de mulheres é geralmente olhado com simpatia e admiração; existe o sentimento de que a coisa valeu a pena, e o homem que o fez sente até certo orgulho nisso; na Inglaterra ele será considerado e se considerará a si mesmo um perfeito idiota. Eis por que Antônio e Cleópatra foi sempre a menos popular das grandes peças de Shakespeare. O público achou discutível perder um império pelo amor de uma mulher. Na verdade, se isso não fosse baseado em um episódio universalmente aceito, seriam unânimes em afirmar que tal coisa era inacreditável." ("Confissões", Editora Globo, 1951, tradução de Mario Quintana, p.p. 106-107).
Depois disso, resta esperar que a ordem do universo não dependa, por exemplo, de o humor ser alemão, os cozinheiros britânicos, os mecânicos franceses, os amantes ingleses e os organizadores italianos. No Rio Grande do Sul, há uma famosa frase atribuída ao general Flores da Cunha para explicar, com indisfarçável orgulho, sua condição franciscana ao final da vida: "Perdi tudo com cavalos lerdos e mulheres ligeiras".