A PORTO ALEGRE QUE DESPREZOU OS FARROUPILHAS
Quem vê hoje Porto Alegre engalanada para os festejos da Semana Farroupilha, com acampamento no Parque da Harmonia, com uma grande azáfama em relação ao desfile de 20 de setembro, com um enorme burburinho de festas e festividades para comemorar o 11 de setembro de 1836, quando o general Neto proclamou a República Rio-Grandense, talvez não saiba que a capital dos gaúchos foi rebelde com os rebeldes, preferindo ficar alinhada com o Império. O tempo sublima fatos, interesses e dá à história uma conotação esmaecida, com múltiplas possibilidades de interpretação e de versões que se digladiam entre si. Contudo, é preciso resgatar o passado do ponto de vista científico, ainda que, num primeiro momento, isso não pareça muito simpático. Mas somos o que somos hoje pelo que realmente aconteceu e não pelo que nos contaram.
Nessa tentativa de se apropinquar de um período conturbado da trajetória do Rio Grande do Sul, ainda não totalmente desvelado, cumpre um papel relevante o livro que está sendo lançado pelo escritor e jornalista Walter Galvani. Trata-se da obra “A difícil convivência – Porto Alegre e os Farrapos”, sob encomenda da Fundação Cultural MTG e com o selo da editora AGE.
Segundo o release de divulgação da obra, ela “expõe a luz crua dos fatos e da realidade, o quanto a capital, que sempre se julgou 'capital de todos os gaúchos' esteve distante do movimento que hoje orgulha tanto o Rio Grande do Sul e nos faz pensar que 'somos todos farrapos'. Mas, não somos. E o comportamento histórico de Porto Alegre, no período da 'Grande Revolução', como é tratada pelos apreciadores daquele período, sempre foi de distanciamento, tanto quanto possível, dos líderes revolucionários e seus seguidores, chegando ao ponto de destruir ao longo do tempo todas as referências que pôde, inclusive com a eliminação física de edifícios, como foi o caso da famosa 'Casa Branca', que serviu de quartel general aos farrapos”.
O texto continua: “Por descrença, ironia, ceticismo ou por uma aposta errada, Porto Alegre jamais se entregou aos farroupilhas, resistiu sempre se achando 'a imparcial capital de todos os gaúchos', e é um processo histórico ainda não concluído que é assim, 'invadido' pelo escritor e jornalista Walter Galvani, trazendo à luz desta edição episódios desconhecidos ou esquecidos desta 'difícil convivência'”.
Por fim, ressalta: “Este preciso e objetivo reexame da história dos Rio Grande do Sul mergulha inclusive em fatos relativamente recentes, não se limita aos acontecimentos do século XIX, e levanta o véu do esquecimento para atitudes surpreendentes da capital que remontam há poucas décadas atrás”.
Pela sua lealdade ao Império brasileiro, Porto Alegre recebeu uma condecoração. É por isso que o brasão da cidade ostenta o título de “Mui leal e valerosa cidade de Porto Alegre”. A capital escolheu lado e esse lado não foi o dos farrapos.
Sem embargo, Walter Galvani escolheu um tema polêmico para debater com seus contemporâneos. Nosso presente e nosso futuro está marcado por nossas ações pretéritas como povo e coletividade. Nem sempre caminhamos para o mesmo lado e nossos rumos e escolhas conflitados precisam ser aclarados para separar mitos e lendas daquilo que realmente foi vivido e sentido pelos nossos antepassados.
Fonte: Megalupa número 20, setembro de 2013
http://static.recantodasletras.com.br/arquivos/4480137.pdf?1379096643