Oswald de Andrade escreveu que é preciso ver com olhos livres. Quando o atacado é grande, é difícil escolher no varejo. Os comentários aqui se sucedem a “la farta”, para todos os gostos e desgostos. Todavia, penso que alguns pontos podem ser pinçados para a lupa dos debates. Sobre a Revolução Farroupilha, até mudei muito minha posição anterior. Tenho até um certo orgulho desse movimento pelo pioneirismo em termos de Brasil. É preferível uma República com mazelas a um Império estratificado. E para quem acha que a prática e as leis da República Rio-Grandense eram menos que o ideal, olhe para o calendário hoje, buscando contextualizar. Não se faz um país harmonioso em meio a uma guerra, acossado pela luta pela sobrevivência. (Em tempo: o voto não era apenas censitário, como se costuma dizer. Basta ler o anteprojeto de Constituição de 1843.)
Sobre o filme “O tempo e o vento” (direção de Jayme Monjardim), fui correndo ver. Também prefiro a minha imaginação, como disse João Sampaio. Contudo, senti-me honrado com a obra. Não podemos entrar no rol daqueles que se queixam que não há produções sobre o Rio Grande do Sul e, quando elas saem, acham um jeito de desmerecê-las. Num país de medianos, infeliz a obra de arte que já nasça correspondendo à expectativa da maioria. O filme é épico como a ficção de Erico Veríssimo, mas é preciso que se diga que o épico não é necessariamente irreal. Aliás, a história do Rio Grande do Sul está cheia de lances épicos, como a morte do intelectual e jornalista Luigi Rossetti, que, depois de correr o mundo, foi morrer como um combatente desajeitado num combate em Viamão em 1840.
Quanto ao separatismo, parece que ainda pagamos tributo a uma circunstância histórica. Contudo, não temos razões étnicas e sociais para querê-lo, talvez de ordem política. Afinal, a ligação com o centro do país é umbilical. Seria uma ingratidão, por certo, com as mulheres de “vida difícil” que vieram do Rio de Janeiro para constituir o tronco honrado das famílias gaúchas e com os paulistas que fariam a viagem inversa das trilhas dos tropeiros para fundar as estâncias no Rio Grande do Sul. Antes de imprimir alguns chavões clássicos, é preciso aprender com as letras miúdas da história. Talvez saibamos menos de nós do que sugere nossa autoimagem.
O cartaz oficial do filme