A primeira vez que encontrei João Gilberto Noll foi na Uerj, universidade estadual, no Rio de Janeiro. Ele era professor convidado da instituição e eu fui lá para divulgar um manual de literatura brasileira, que escrevera à época. Depois, por outras ocasiões, nos cruzamos pelas ruas de Porto Alegre, da sua provinciana Porto Alegre, da qual ele não abre mão para viver e escrever. Nunca mais havia conversado com ele, talvez pela pressa, talvez por timidez, talvez pelos compromissos previamente marcados por um relógio sempre implacável.
Neste domingo, eu estava passando pela Rua dos Andradas (Rua da Praia) e lá estava ele, sentado num bar, na calçada. Porque era domingo, dia da informalidade, desta vez falei-lhe. Cumprimentei-o e ficamos a conversar, por algumas dezenas de pares de minutos que devem ter conformado bem mais de uma hora. Falamos de literatura, de história, de seu amor de andejo por Porto Alegre, de seus motivos para escrever. A cerveja estava gelada e eu ainda tinha um certo tempo antes de escrever um texto para o Correio do Povo de segunda-feira. Os bares da capital dos gaúchos estão tomados por gringos, para os quais os intelectuais são seres exóticos, mas, pagando R$ 6,50 por uma “ceva”, todos têm direito a falar do que bem entendem.
João Gilberto Noll é hoje um escritor em plena atividade, reconhecido, com várias de suas obras premiadas e levadas ao cinema. Eu só tinha lido dele “Rastros de verão”, mas espero corrigir parcialmente essa defasagem. Porto Alegre tem dessas particularidades. Podemos encontrar um escritor, um cineasta, um artista plástico a cada uma de suas vértebras. João Gilberto Noll é um cara legal, criativo, ebuliente na sua fineza e introspectividade, opinativo na medida da sua reflexão e um captador de tipos e pessoas para virarem peculiares personagens em suas obras. Valeu, escritor, tu és uma das pessoas que imanizam as ruas desta cidade e fazem dela um burgo universal.
Mais sobre o escritor em www.joaogilbertonoll.com.br.