É bem provável que a maioria das pessoas não compreendam, pois a consciência tem limites que retêm o próprio entendimento, mas nós, que temos irmãos de lutas espalhados por todo o mundo, nos reconhecemos nesses sonhos generosos de mudar as estruturas sociais carcomidas como se fôramos plenos de afeto um pelo outro, ainda que sejamos desconhecidos de rosto, de abraço e de convívio. Alguns são referências de nome e de exemplo, quando não de legado.
Eu, agora, estou pleno de tristeza, pesaroso pela notícia que acabo de ler. Morreu em São Paulo, nesta terça-feira, 16 de setembro, Dirceu Travesso (1959-2014), o Didi, militante trotskista por 35 anos. Ele foi um dos nomes que sempre ouvi como um dos nossos imprescindíveis, desde que comecei minha militância política e cultural nos anos 80, atuando numa organização chamada Alicerce, com a qual tive contato em Passo Fundo-RS. De lá para cá, em cada luta, em cada mobilização social, em cada embate da classe trabalhadora, lá estava ele, incansável, ofertando suas colaboração e experiência na batalha por ganhar terreno ao capitalismo e às elites dominantes. Jamais se curvou, jamais se vendeu, jamais trocou suas convicções por um cargo, jamais esmaeceu na vontade hercúlea de organizar o exército dos oprimidos para suas tarefas históricas.
Eu nunca tive o privilégio de trocar sequer algumas palavras com Dirceu Travesso. Seria bom, seria de todo inesquecível, mas nem um pouco necessário para que o reconheça como alguém de quem posso me orgulhar, de um amigo distante e presente, de um parceiro de empreitadas que não se fazem sozinho, de um aliado de todas as horas, para o qual as palavras calam na hora de definir. Sua memória há de ser alento para os combates que certamente virão. Quando morre um lutador, secamos as lágrimas e vamos ao campo de batalha, que é assim que podemos lhe prestar a melhor e a mais densa homenagem. Companheiro, Dirceu Travesso, até a vitória final. Obrigado por iluminar esta jornada comum contra as trevas deste sistema injusto e insano.