Quando eu era guri em Itaqui, ia pescar em vários lugares, como o Quarte, o Açude do Valmoci, o rio Uruguai. Pescávamos pacus, lambaris, jundiás e outros quejandos. Eu e meu irmão, o Cláudio, levávamos para a minha vó preparar para nós, que tínhamos então uma casa pequena com muitas bocas para serem saciadas. A necessidade falava mais alto e a sobrevivência é um imperativo. Depois que saí de Itaqui, numa trajetória em que nunca me faltou o mínimo para satisfazer a mais comezinha das demandas do ser humano, nunca mais pesquei. Não entendo a pesca como diversão, mas como algo que só deve ser feito no limite para garantir o suprimento na mesa das pessoas. Afora isso, considero um sadismo puro e simples o ato de pescar por pescar, de interferir na vida de outros seres indefesos para satisfazer uma emulação egoísta e trivial. Os seres humanos deveriam ter a obrigação de procurar prazeres menos danosos aos nossos ecossistemas, tão aviltados por requintes de crueldade.