"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
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Meu Diário
30/09/2015 01h12
UM SONETO PARA CAMÕES ASSINAR

    Tenho lido muitos sonetos ao longo da minha vida e, de alguns, algumas frases esparsas nos grudam como carimbos poéticos. Quem não se lembra de vez em quando de “Amor é fogo que arde sem se ver”, de “De repente, do riso fez-se o pranto” ou de “Ó, tu, que vens de longe, ó, tu, que vens cansada”? São verdadeiras ourivesarias dos versos, imagens sonoras antológicas que nos remetem a uma dimensão lírica sempre antiga e, ao mesmo tempo, sempre ressignificada.
    Pois bem, o soneto que vou mostrar a vocês é da lavra do poeta passo-fundense Ubiratan Porto, recentemente falecido, que também já morou e atuou em Porto Alegre como advogado e ativista cultural e em Capão da Canoa. Está no livro “O voo do visor”, de 1981. Para mim, é um dos mais lindos sonetos já escritos na língua portuguesa. Qualquer coincidência com os grandes vates da última flor do Lácio não é mera coincidência. Mas também não é mera semelhança.

SONETO DE DESAMOR

Não falar de amor... nem por amor buscar
Que amar não é o fim, mas o meio e traga
A ilusão e a inocência, qual a vaga
De um coração por tenebroso mar.

Não lembrar de amor... embora em dor a paga
Seja o sonho irreal da solidão e no olhar
Outros olhares seu alento façam orar:
Que por um seio amigo nunca um ser naufraga.

Não lamentar... apenas salmo de tristeza
Reter na alma o acalanto da ternura e mudo
Velho anseio no amanhã por uma nova amada;

Simplesmente passar... e por amor, sem surpresa
Ver que ele já pousou na vida (quem sabe o tudo)
Ou nunca existiu... para morrer (talvez de nada!)

Publicado por Landro Oviedo
em 30/09/2015 às 01h12
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