"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
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Meu Diário
17/03/2016 04h31
GAUDÉRIO DE OITIVA

      Eu poderia dizer pra vocês que a canção “Negro da gaita”, do poeta Gilberto Carvalho e do compositor Aírton Pimentel, vencedora da Califórnia da Canção de 1977, é do cantor César Passarinho. Afinal, muita gente faz isso. Poderia, mas, na minha condição, não devo.
    A coluna de Juremir Machado da Silva no Correio do Povo desta quinta-feira, 17.3.2016, faz uma analogia entre a descrição de uma canção gaúcha, intitulada “Só restou”, e o estado de coisas que ficou no país após muitos anos do governo do PT. Até aí, tudo bem, afinal, o analista analisa.
    Contudo, há um erro crasso que seria escusável no povo, que tem o hábito de atribuir a canção àquele que a grava, mas que não é desculpável num doutor em filosofia, ainda mais de DNA gaudério por ele reivindicado, que pode, a qualquer momento, apelar para o Google. Ele atribui a música “Só restou”, de autoria de José Hilário Retamozzo (letra) e Marco Aurélio Vasconcellos (música), a Joca Martins, que a regravou muitíssimos anos depois de ela ser sucesso com Os Posteiros, que lhe deram vida pública na XI Califórnia da Canção Nativa, em 1982. Nessa época, Joca Martins decerto estava em alguma creche campeira pela região sul do Estado. E tem mais: cantores como Joca Martins e Wilson Paim pouco criam, pois adotaram a fórmula fácil de só gravar aquilo que já está consagrado.
    Mas se fora só isso, já seria de mau tamanho. Mas não é. Na sequência, o colunista reproduz versos de uma conhecida canção nativa intitulada “Desgarrados”, que atribui ao músico Mário Barbará. É uma meia verdade e, como tal, esconde um desconhecimento de novo pouco convincente ou aceitável. A música é de Mário Barbará, mas a letra é de Sérgio Napp. A falta de crédito não merece crédito.
   Os compositores suam para trazer a lume suas obras artísticas. Não querem muito. Querem o reconhecimento devido. Mas isso depende de os ouvintes de suas obras conhecerem a ficha técnica das canções. Talvez isso seja difícil para os gaudérios de oitiva, que sempre têm temas mais relevantes para tratar e para os quais a cultura gaúcha é um detalhe para ilustrar um texto com prazo de validade.

Publicado por Landro Oviedo
em 17/03/2016 às 04h31
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