Muito corajoso e arrojado o governador José Ivo Sartori. Está arriscando seu “futuro político” por um plano benfazejo para salvar a economia do Rio Grande. Com sua popularidade minada por uma inércia e uma subserviência aos donos do capital, Sartori não pode perder o que não tem. Mas pode estragar a vida de milhares e de milhões de pessoas. Na verdade, seu futuro está bem garantido. Vai receber uma pensão de ex-governador do Erário, sem trabalhar, de mais de R$ 33 mil até o resto da vida, fazendo companhia a Tarso Genro, Olívio Dutra, Yeda Crusius, Alceu Collares, Jair Soares, Antônio Britto, Germano Rigotto e outros num clube nadica republicano em que concursado não entra.
Dentro desse pacote, que vai jogar a crise nas costas dos servidores e da população, chama-me especial atenção a TVE. Ministrei aulas de português para muitos dos aprovados nesse concurso, que estudaram para valer para conquistar um cargo pela porta da frente. Foram noites, sábados, domingos de estudo. As turmas, organizadas pelo Sindicato dos Jornalistas, ficaram lotadas de pessoas que deram o melhor dos seus esforços numa disputa leal. Muitos foram aprovados para trabalhar de forma digna na Fundação Piratini, ao contrário do que ocorre no gabinete do governador, que concentra 20% dos cargos em comissão da máquina pública estadual.
O poder público no Brasil é um eufemismo. Deveria ser chamado de poder privado, que é a quem representa. Não é à toa que as federações de empresários apressaram-se em apoiar o pacote de males de Sartori, assim como a RBS, no que não vai nenhuma surpresa. Isso só mostra que os trabalhadores não podem confiar um só segundo em quem não os representa, aí incluídos Dilma, Lula, Temer, Marchezan, Melo, Sartori e outros, que configuram uma profusão de políticos tradicionais e carreiristas. A estrutura estatal serve de moeda de troca para carrear recursos dos mais pobres para os mais ricos. A cantilena de Sartori de que vai salvar o navio que ele ajudou a afundar é, no mínimo, insólita e mal-intencionada. Aos servidores da TVE e de outros órgãos ameaçados, minha solidariedade e a certeza de que é possível derrotar esse governo entreguista e pouco afeito à verdade.