Eu, como gremista, também estou exultante com a conquista do tricampeonato da América. As conquistas anteriores ainda estão na minha mente, acariciando a emoção. Também está em minha memória a conquista da Copa do Brasil de 2016, que nos tirou um período de seca de 15 anos, tal qual a viúva que redescobre o prazer da carne depois de uma duradoura quarentena.
Entretanto, por conta dos méritos esportivos de toda a equipa, como dizem os portugueses, avultando também os do treinador do Crêmio, Renato Portaluppi, está sendo reforçada uma história descabida de colocar na Arena do Grêmio, que ainda não é bem do Grêmio, uma estátua para o treinador. Essa história vem desde a vitória na Copa do Brasil, logo após o jogo decisivo contra o Atlético-MG. Pela emotividade e por um certo constrangimento clubístico, apoiado por parcela da imprensa e boa parte dos torcedores, a proposta ganhou mais força após a vitória contra o Lanús, da Argentina, na data de 28.11.2017.
Não, Renato, estátua não é para profissionais bem pagos e de pouca atividade em prol do bem comum. Estátua não é para quem faz da alienação bem-sucedida uma forma de realce, sem se envolver com o drama de um povo que sofre nas mãos de uma elite secular e dominante. Estátua é para verdadeiros heróis como João Cândido, Lima Barreto, Frei Caneca, Luiz Gama, José do Patrocínio, Lila Rippol, Castro Alves, entre tantos outros que arriscaram suas vidas por suas verdades, que abriram mão de sua área de conforto em prol de seus ideais. O treinador do Grêmio apenas cumpriu com seu contrato, bem remunerado, numa área em que não há cheiro fétido nem perfume em relação às injustiças sociais do país. Estátua mesmo quem merece é o povo brasileiro, que sobrevive apesar de tudo e de todos que atravancam seu caminho. Além disso, culto à personalidade dos vivos nunca acaba bem nem é justo, como se viu no regime stalinista na Rússia. As lendas se formam com o tempo e o tempo das lendas não é o nosso tempo, fugaz e cheio de vaidades.
Estátua não, Renato! Deixa a história te levar. Homenagem do homenageado é melhor em testamento, dando ao futuro a prerrogativa da láurea com o real tamanho do merecimento.