Desde meus primórdios no curso de Letras, sempre ouvi discutíveis restrições à obra de Jorge Amado por parte da crítica especializada. Embora não seja um leitor recorrente de sua obra, penso que ela é um pouco do Brasil que deu certo. Talvez seja efeito de uma variante do complexo de vira-lata de que nos falou o dramaturgo Nélson Rodrigues esse tipo de contestação. Bom mesmo é Paulo Coelho! Tenho certeza de que qualquer país com um nível cultural e educacional mais elevado orgulhar-se-ia de ter Jorge Amado como um dos seu melhores intérpretes. Nessa obra, "Tocaia Grande", ele retoma a tradição de um dos nossos maiores escritores de todos os tempos, Aluísio de Azevedo, ao apresentar a localidade de Tocaia Grande como a grande personagem que serve de cenário para a arraia-miúda que nela desfila seus dramas sem eco. A relações de espezinhamento dos mais desfavorecidos são esmiuçadas numa obra de fôlego, que faz o leitor refletir que a tragédia de Canudos não foi por acaso. Recomendo sem pestanejar.
Em tempo: quem ainda não leu "ABC de Castro Alves", também de Jorge Amado, em que ele presta um tributo ao revolucionário poeta Castro Alves, talvez esteja perdendo o imperdível.