Nesta quinta-feira, 19 de agosto, fui dar uma verificada na situação da herma de João Cândido, de autoria do artista plástico Vasco Prado, instalada no Parque Marinha do Brasil, em Porto Alegre. A colocação desse monumento, feita há duas décadas na Capital, foi rodeada de polêmicas semelhantes às que cercaram a vida desse herói negro e popular durante toda sua existência. Pois bem, a situação da estátua está caótica, com abandono e deterioração, com as letras ilegíveis. Ela tem uma história bonita, da qual tive a honra de participar, como conto a seguir. Antes disso, quero solicitar a intervenção do vereador Matheus Gomes (PSOL) para que ele realize um pedido de providências à prefeitura para restauração do busto desse grande brasileiro, referência da luta do povo negro. Segue o depoimento do ex-vereador Lauro Hagemann contando a história de como conseguimos homenagear João Cândido e reabilitá-lo num logradouro que leva o nome da força reacionária que sempre o perseguiu, a Marinha Brasileira.
"A questão do João Cândido é interessante. Nos almoços de que participávamos com partidários, vereadores e assessores da Câmara Municipal de Porto Alegre, sempre falávamos sobre a comemoração dos vinte anos da Anistia. O que tinha acontecido, o que não tinha, quais de nós tínhamos sido anistiados, quais não tínhamos. Lembrando os episódios nos demos conta que estava faltando gente a ser anistiada. Temos quatrocentos marinheiros que ainda reivindicam a anistia.
Então, Landro Oviedo, professor de Literatura, que não é nosso partidário, mas ia muito ao meu gabinete para promover algumas coisas, sugeriu a ideia: 'Existe uma pessoa que na história brasileira que não foi anistiada nunca, não é de hoje, um tal de João Cândido, o herói da chibata. Quem sabe não fazemos um movimento?' Montamos uma campanha para a comemoração dos vinte anos da Anistia, junto com a campanha do João Cândido, do resgate de sua memória para homenageá-lo no dia 22 de novembro, que é o Dia da Revolta da Chibata. A minha proposta, aprovada dia 3 de dezembro de 1999, foi que 'o dia 22 de novembro seja lembrado em nossa cidade como 'Dia da Cidadania e de Luta pelos Direitos Humanos' em homenagem a João Cândido, o Almirante Negro. O projeto de lei também autorizou o Executivo Municipal a construir um monumento em homenagem ao marinheiro. Esse campanha que levantamos conseguiu sensibilizar e mobilizar os movimentos negros da cidade (...)."
Fonte: Livro "João Cândido - A Revolta da Chibata" (Editora da Cidade, 3ª ed., Porto Alegre, 2010), de Paulo Ricardo de Moraes.