Para quem gosta de garimpar livros em sebos, a aventura é sempre garantida e a expectativa também. É algo que se pode comparar a uma pescaria. Por vezes, rende algo; doutras vezes, nada. A literatura costuma ser profícua em novidades quando menos se espera.
Foi mais ou menos sem esperar muito que descobri o livro de contos de Altino Machado (1924-2011), "A figura refletida", num sebo na cidade de Guaíba. Comecei a folheá-lo e me vi fisgado de pronto por sua prosa leve, fluente, com tramas bem urdidas e de finais marcantes. Trata-se de contos urbanos cinematográficos, pois vamos acompanhando o desenrolar dos acontecimentos com visão panorâmica numa tela improvisada pela narrativa. São pequenos flagrantes da vida que primeiramente parecem interessar apenas aos personagens. Todavia, parafraseando Karl Marx, nada que é humano nos pode ser estranho. Então, nossa projeção nessa sua classe média ou na arraia-miúda das cidades em transformação é inevitável e tudo acaba nos dizendo respeito, seja para ratificar o que está sendo vivido, seja para suspirar por uma aventura que nunca vivemos.
Confesso que nunca tinha ouvido falar de Altino Machado. Agora, falar dele me parece imperioso e uma questão de justiça literária.