Este trecho de Somerset Maughan sobre os ingleses é genial.
"Os ingleses, o que quer que tenham sido na era elizabetheana, não são uma raça amorosa. O amor, neles, é mais sentimental que apaixonado. É claro que são suficientemente sexuais para os fins da reprodução da espécie, mas não podem dominar o instintivo sentimento de que o ato sexual é repugnante. São mais inclinados a considerar o amor como afeto ou benevolência do que como paixão (...). O inglês é a única língua moderna em que se julgou necessário tomar de empréstimo ao latim uma palavra de sentido pejorativo, a palavra "uxorious", para o dedicado amor de um homem à sua esposa. Que esse amor possa absorver um homem, afigura-se-lhes indigno. Na França, um homem que se arruinou por causa de mulheres é geralmente olhado com simpatia e admiração; existe o sentimento de que a coisa valeu a pena, e o homem que o fez sente até certo orgulho nisso; na Inglaterra ele será considerado e se considerará a si mesmo um perfeito idiota. Eis por que Antônio e Cleópatra foi sempre a menos popular das grandes peças de Shakespeare. O público achou discutível perder um império pelo amor de uma mulher. Na verdade, se isso não fosse baseado em um episódio universalmente aceito, seriam unânimes em afirmar que tal coisa era inacreditável." ("Confissões", Editora Globo, 1951, tradução de Mario Quintana, p.p. 106-107).
Depois disso, resta esperar que a ordem do universo não dependa, por exemplo, de o humor ser alemão, os cozinheiros britânicos, os mecânicos franceses, os amantes ingleses e os organizadores italianos. No Rio Grande do Sul, há uma famosa frase atribuída ao general Flores da Cunha para explicar, com indisfarçável orgulho, sua condição franciscana ao final da vida: "Perdi tudo com cavalos lerdos e mulheres ligeiras".