"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
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Meu Diário
19/12/2021 01h41
"EMBRETANDO" (JOÃO SAMPAIO-NOEL GUARANY) COMENTADA

Ritual, pampa de cantares
Clarão, protesto e bandeira
É a milonga missioneira
Se esparramando nos ares
E as violações seculares
Seguem sendo sempre atuais
Nos quatro pontos cardeais
Vão se agrandando os problemas
E as evidências supremas
Das injustiças sociais

Meu comentario:

Nesta estrofe, o poeta legitima a milonga missioneira como legítima forma de protesto e ressalta os problemas gerados pelas disparidades sociais numa sociedade injusta.

Neste mundo imediatista
De convulsões e procelas
Um payador guitarreiro
Para o tempo abre cancelas
Sociedade é vaca magra
Cheia de bicho e mazelas

Meu comentario:

Aqui temos a inconformidade do poeta com os aproveitadores que sugam as riquezas produzidas pela coletividade. Não é demais lembrar que o professor Sílvio Júlio dizia que, para cada idealista, temos milhões de sacripantas. 

São temas do meu ofício
De cantor sem fantasia
Que avultam a terra toda
Sem pátria e sem geografia
Reclamando na guitarra
Maus tratos na ecologia

Meu comentario:

Neste sexteto, o poeta toca num ponto fundamental, a defesa do meio ambiente. Essa música é muito atual num momento em que o governo de Jair Bolsonaro desarticula a defesa da Amazônia e incentiva grileiros, desmatadores, mineradores e traficantes de madeira a destruir a floresta.

Genocídios, extermínios
Que ecoam por aqui
Ideais colonialistas
Do Amapá ao Tuiuti
E o massacre feudalista
Da minha raça guarani

Meu comentario:

Que estrofe brilhante e visionária! O governo de Jair Bolsonaro boicota a vacinação, proíbe a assistência à saúde dos índios e até a entrega de água potável, além de incentivar a mineração nos rios das terras indígenas e um avanço de "bandeirantes" que levam doenças e desgraças às aldeias. Quadro completo de um genocídio anunciado e perpetrado.

O cantor pulsa a guitarra
Contra a ganância ilusória
Dos que massacram a terra
Pobre povo e luta inglória
É um veneno o pão escasso
Da lavoura predatória

Meu comentario:

De novo o poeta acerta em cheio. O agronegócio destrói o bioma pampa com a agricultura destruidora da natureza e o emprego de agrotóxicos nocivos à saúde e ao meio ambiente. Um exemplo é a extinção gradativa da espécie das abelhas. E o Rio Grande do Sul continua a permitir ofensivos agrícolas proibidos no mundo todo.

Liberdade é o bem maior
Impulso de pátria e chão
Forjada na nossa alma
Com força no coração
Suprimir a liberdade
É a pior poluição

Meu comentario:

Excelente comentário genérico, mas importante. Já dizia Cecília Meireles: "Liberdade é uma palavra/Que o sonho humano alimenta/Que não há ninguém que explique/E ninguém que não entenda". Sem esquecer que Bolsonaro diz que é melhor perder a vida que a liberdade. Mas o melhor mesmo é ter a liberdade de discordar de uma asneira dessas.

Assim quero ver a pátria
Andar por trilha singelas
Pátria não é sociedade
São ânsias verde e amarelas
Queremos una e liberta
Sem bichos e sem mazelas

Meu comentario:

Finalizando, o poeta estabelece um conceito de pátria liberta para além das convenções sociais, um reflexo de vontades morais reunidas. Coisa difícil nos tempos atuais, quando um presidente diz que o Brasil está acima de tudo, menos de sua família organizada. Mas o pajador pode e deve ser impositivo, não é mesmo? E agora, para finalizar e para quem tiver interesse de conhecer essa música de atualizada rebeldia, deixo o linque abaixo. Obrigado a todos.

https://www.youtube.com/watch?v=9W3DujCSjss

Publicado por Landro Oviedo
em 19/12/2021 às 01h41
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