Há cerca de um ano, em 25 de março de 2021, na esteira de tantas perdas que tivemos, falecia nosso amigo Zaidi Centenaro, um dos proprietários do Mercado Centenaro, situado na Rua Riachuelo, no Centro Histórico de Porto Alegre. Uma perda absurda cuja lacuna ainda lateja em todos os que o conheceram e privaram de sua honrosa e desinteressada amizade.
O Zaidi era realmente um ser humano excepcional. Tinha uma inocência que o acompanhava desde o Interior, uma capacidade de acreditar nas pessoas na Capital que nem mesmo uma montanha de cheques sem fundos pôde abalar. Qualquer um que o abordasse com um problema ele tentava ao máximo arrumar uma solução. Tinha uma empatia rara com as pessoas e sempre uma palavra amiga, não obstante as dores intermitentes que o acompanhavam por conta de um acidente laboral. Nem mesmo as ações judiciais de alguns vizinhos que o demandaram com processos discutíveis puderem tirar seu sorriso e sua opção de viver plenamente. Tinha projetos, tinha sonhos e tudo isso foi abruptamente interrompido pela Indesejada das Gentes, como diziam os poetas.
O Zaidi era alegre e gostava de seu ofício de comerciante, de conhecer pessoas, de interagir com elas. Não raras vezes, o vi fazendo a reposição dos produtos para o varejo do dia seguinte alinhavando canções. E cantava, do seu jeito, mas cantava:
“Meu pai pra me ver casado
Prometeu-me um caminhão
Depois que me viu casado
Me deu um carro de mão.”
…………………….
“Foi num baile lá na serra
Na fazenda da Ramada
Foi por lá que um tal de Pedro
Se chegou de madrugada.”
…………………….
“Chinoca fugiu de casa
Com meu amigo João
Bem diz que mulher tem asas
Na ponta do coração.”
E cantava, como se a cantoria aliviasse o fardo laboral.
Certa feita, eu resolvi também entoar umas melodias para acompanhar o Zaidi. Só que de forma sofrível. O Zaidi me olhou e desferiu: “O senhor não, professor! O senhor canta muito mal”. Como se ele fosse bem afinado.
A todos os seus familiares e sua imensa gama de amigos, minha solidariedade.
E meu orgulho de ser sido amigo do Zaidi.