OS 70 ANOS DO POETA FACHINELLI
Falar sobre Nélson Fachinelli é falar sobre uma referência cultural do RS. Fachinelli é o menestrel das palavras, o homem que escolheu fazer da sua existência uma cruzada a favor da vida, da cultura, das letras e das coisas do espírito. Fachinelli é o amigo constante, o homem humilde, simples e solidário, sempre pronto a colocar um novo tijolo na argamassa literária de um poeta novo, para lhe abrir os caminhos, ou mesmo fazendo promoções para que os vates de todos os recantos e estirpes possam emprestar seus talentos e suas virtudes. É o homem das letras e da poesia, essa eterna rebelada.
Em fevereiro, reunimo-nos no Cafezinho Poético, essa quase cinqüentona atividade artística criada pelo visionário Fachinelli nos anos 60. Foi quando cortamos a fita inaugural do ano em que o operário das letras completa 70 anos. O Cafezinho, junto com a Casa do Poeta Rio-Grandense, é o símbolo-mor do seu ativismo cultural, marca indelével de um compromisso que se confirma a cada dia. Nunca uma promoção cultural durou tanto tempo no Rio Grande do Sul. E isso a despeito da má vontade de alguns críticos, que se autoproclamam guardiões do cálice sagrado da literatura.
Um evento como esse mostra que o tempo pode ser nosso aliado e nosso meio amigo. É nosso aliado por nos permitir tais contemporaneidades. É nosso meio amigo porque é implacável com tudo e com todos, confirmando aquela máxima de que o sólido se desmancha no ar. Mas se isso vale para o sólido, resta-nos a memória, índice e ícone da superioridade dos homens. Ela traz em si o gene da indestrutividade. Pode ser negligenciada, pode ser vilipendiada, pode ser desassistida, mas é um fio de esperança a unir gerações. E é por isso que a obra de Fachinelli, no seu sentido mais lato, não perecerá, não cairá no olvido. Disso damos prova todos nós, reunidos para abraçar o homem, o amigo, o poeta, o pai de família, o servidor dedicado, o profeta, enfim, o timoneiro do barco que singra os mares das letras do Rio Grande. Parabéns, Nélson Fachinelli, pela data que se avizinha no horizonte. És como vinho de boa pipa, que o tempo só aprimora. É por isso que brindamos contigo e com os deuses da literatura, que devem estar exultantes. O cálice da alegria transbordou. Um novo poema está a caminho.
Correio do Povo
Porto Alegre - RS - Brasil, 25/04/2005.