"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
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DOIS PERFIS, DOIS DESTINOS
No final do século XIX, dois titãs riscavam indelevelmente os céus da província. Um se aproximava do epílogo, com o Império, e o outro descortinava uma nova era na carona da República. Cada um, a seu modo e feitio, tracejou fatos, lenços e ideologias que haveriam de conformar a história do Rio Grande.

Gaspar Silveira Martins (1834-1901) era o tribuno arrebatado, de uma carreira emergente a serviço de Sua Majestade. Foi advogado, juiz municipal, deputado provincial e geral, senador, ministro de Estado e presidente do RS. Não obstante seu alinhamento ao Império, fê-lo de forma independente e uma vez, da tribuna, chegou a afirmar que preferia a república à monarquia. Acima de tudo, colocava seu senso de justiça, que deve nortear o homem público. Mais de uma vez, interrompeu seus afazeres de estadista para corrigir uma pequena injustiça cometida contra um infeliz da arraia miúda. Instaurada a República, bateu-se por uma democracia parlamentar, tendo sido o líder civil da Revolução Federalista.

Júlio de Castilhos (1860-1903) foi o homem de reflexão e de ação, o iconoclasta silencioso. Foi advogado, jornalista e político. A partir de 1882, começou a dirigir o Partido Republicano Rio-Grandense, que, por sua vontade férrea, chegaria ao poder no Estado e dele disporia por décadas e décadas, implantando a República positivista e aliciando as camadas médias da população.

Num paralelo entre esses dois homens, avultam os contrastes. Um era romântico, o outro clássico; um vinha da pampa, o outro elegeu a urbe; um era artífice da sonoridade verbal, o outro maestro da palavra escrita; um era do atacado da erudição, o outro do varejo das ações; um era parlamentarista, o outro republicano centralizador; um era o Rio Grande épico, o outro o Rio Grande futurista. Finalmente, como o povo inscreveu no bronze da história, um era maragato, o outro chimango.

Esses homens, nos erros e nos acertos, personificaram duas épocas que se digladiaram entre si. O que os unia e separava era um afeto extremado pela terra natal. Manoelito de Ornellas realçou bem a antinomia entre eles: "Castilhos morreu no governo supremo do seu Estado e Gaspar fechou os olhos no exílio". "Dois bicudos não se beijam", diz o ditado. Muito menos na hora da morte.


Correio do Povo
Porto Alegre - RS - Brasil
PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 2 DE JANEIRO DE 2004.



Veja também:
www.cursodeportugues.zip.net
(Curso de Português)

www.megalupa.zip.net
(Jornal Megalupa)
Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 06/03/2012
Alterado em 10/03/2012
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