Quando findava setembro, o mundo da literatura e da educação foi subitamente invadido pela perda de uma das suas figuras mais queridas. De repente, não obstante sua inconformidade, porque partiu irresignado com a Indesejada das Gentes, o professor e escritor Laury Maciel nos furtou de sua magnética presença.
Conheci Laury Maciel na mesma época em que conheci Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caieiro, Eça de Queirós, Mário de Sá-Carneiro, entre outros, dos quais era íntimo. Gostava de apresentá-los aos seus alunos do curso de Letras na Fapa em aulas nada convencionais, marcadas pelo seu arrebatamento e paixão. Quando falava, os pequenos e grandes dramas de poetas e personagens desfilavam à nossa frente, num cardápio das inquietudes humanas.
Mais tarde, na gestão do saudoso professor Felizardo, eu e o escritor Arnaldo Campos sempre contamos com a inestimável colaboração de Laury Maciel, na área da literatura, por ocasião da fundação da Secretaria Municipal da Cultura. Nos seminários, lá estava ele a invocar a obra de Dyonélio Machado, notadamente 'Os Ratos', uma de suas paixões e tese de mestrado.
Seu depoimento para a vida e para a posteridade foi dado pela literatura. Entre outras obras, lançou 'Corpo e Sombra' (1977), 'O Homem que Amava Cavalos' (1983) e 'A Noite do Homem-Mosca' (1989), livros de contos. Como romancista, publicou 'Noites no Sobrado' (1986), considerada sua obra mais marcante, e 'Rosas de Papel Crepom' (1992). Em 1998 lançou 'Quarto de Pensão', contos, e em 2000 o romance 'Pedra dos Anjos'. Foi, ainda, colaborador das seções literárias dos jornais.
Administrador público, associativista, nacionalista convicto, Laury Maciel era um homem de idéias fixas e generosas. Das suas muitas facetas, há de ficar para seus amigos sua companhia agradável e polêmica nos jantares que animava com sua presença. Sempre envolvido em novos projetos, amava a vida e vivia cada minuto com a leveza dos que pagam seu estipêndio à existência sem titubear.
Em meio aos preparativos para mais uma Feira do Livro, sua ausência será sentida à sombra dos jacarandás. O coração é meio-irmão da saudade.
Correio do Povo
Porto Alegre - RS - Brasil
PORTO ALEGRE, TERÇA-FEIRA, 29 DE OUTUBRO DE 2002.