"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Textos

QUATRO TRONCOS MISSIONEIROS

     A música popular brasileira tem quatro grandes mestres reconhecidos na sua arte de composição. São Chico Buarque, Caetano Veloso, Mílton Nascimento e Gilberto Gil. Em torno dessa constelação, giram grandes músicos e compositores, mas eles são, indubitavelmente, parte fundamental desse veio inesgotável que se convencionou chamar de MPB, uma sigla e um signo.

     Em nossas plagas, também temos uma plêiade de boa cepa e qualidade. Num contexto forjado por uma história singular, esses baluartes da cultura gaúcha tiveram a seiva apropriada para se nutrir. Guerras, uma República, a atividade pastoril, os romances que enobreceram almas, os ofícios que fizeram homens e mulheres acreditar nesta terra, a semente lançada ao solo fértil, a utopia dos guaranis, valores como a palavra e a amizade, uma força de amor ao pago, tudo colaborou para que eles pudessem ter ao alcance da mão e do coração o perfeito motivo para cantar o cenário de suas origens. E não fizeram por menos nem deslustraram as raízes.

     Os chamados quatro troncos missioneiros fizeram-se batedores da verdadeira arte poética e musical do Rio Grande do Sul. São eles Noel Guarany, Cenair Maicá, Jayme Caetano Braun e Pedro Ortaça. Os três primeiros não habitam mais o chão que tanto cantaram, mas Pedro Ortaça segue como uma lenda viva a cantar o berço que lhe deu vida.

     Noel Guarany empunhou guitarras, entoou sua voz e sustentou ideias. Cenair Maicá cantou com maestria temas nativos, principalmente os relacionados à água, hoje tão recorrentes. Jayme Caetano Braun era o pajador da verve que se revelava inesgotável, pujante. Pedro Ortaça mantém esse legado como quem cuida de um tesouro das Missões.

     Temos um regionalismo universal, a exemplo da obra de Simões Lopes Neto. Nosso cancioneiro canta nossa densidade humana e torna-nos partícipes da sinfonia que mostra quem somos e por que cantamos assim. Na fixação dessa identidade, os quatro troncos missioneiros cumpriram uma relevante missão.

 

     Correio do Povo - ANO 116 Nº 169 - PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 18 DE MARÇO DE 2011.

 

 

Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 06/03/2012
Alterado em 06/08/2023
Comentários
Eventuais recebimentos