ROSSETTI E SEU LEGADO
Certa vez, Ernesto Che Guevara, líder revolucionário cubano, foi acusado de ser um aventureiro. Em resposta, disse que sim, que o era. Mas que era um tipo diferente de aventureiro, daqueles que arriscam a vida por suas verdades e convicções.
A revolta farroupilha foi pródiga em exemplos de homens e mulheres que arriscaram existências, patrimônio e até mesmo sua pequena cota de liberdade. Muitos tiveram seu ciclo abreviado em função da colheita da Indesejada das Gentes. Não faltou heroísmo ou as mazelas e veleidades inerentes à condição humana.
O período do decênio da chamada Revolução Farroupilha até hoje divide opiniões. Há os críticos de carteirinha, os neutros e os positivistas das academias, os amantes envergonhados, os apaixonados torcedores e muitos matizes nas avaliações sobre a insurgência. Sabe-se que é muito mais fácil concordar sobre o futuro que estabelecer um consenso sobre o passado. Mas todos os trabalhos têm sua validade, inclusive o da historiadora Laura de Leão Dornelles, que recentemente teve aprovada uma tese de mestrado sobre o período, preenchendo uma lacuna com obra informativa, avaliativa, densa, instigante e, ao mesmo tempo, didática, clara e honesta em seus propósitos.
Luigi Rossetti é o grande romântico, o grande Quixote da Revolução Farroupilha. É homem de pensamento e de ação, capaz de descortinar oceanos para levar além-mar suas ideias. Ele embrenhou-se de corpo e alma em uma aventura que entendia decisiva para dar verossimilhança e aplicabilidade às teorias de Giuseppe Mazzini, como se elas devessem florescer no novo mundo para atestar sua vitalidade e caráter universal. A vida de Rossetti é como um épico individual, uma epopeia na qual não faltam os eleitos, heróis e anti-heróis de um drama cujo final parece desafiar a posteridade.
Há algo na trajetória de Rossetti que impende a avultá-lo ao longo do tempo. Seu desprendimento, seu envolvimento com uma causa que passou a lhe parecer cada vez menos viável, sua insistência em permanecer numa terra que já lhe exigia tarefas acima de suas forças é algo digno de nota.
É preciso realizar o resgate da figura maiúscula e antológica de Luigi Rossetti. A par dos livros de história, cabe-lhe lugar na literatura, no cinema, no teatro, no afeto dos gaúchos e no coração de todos que amam a liberdade, dama que nunca se cansa de dar guarida ao sonho de emancipação dos povos. Seu sangue regou o solo rio-grandense e fecundou uma centelha que continua a impregnar a alma dos que sonham com uma pátria verdadeiramente livre.
Correio do Povo, edição de 28 de outubro de 2010.
Veja também:
www.cursodeportugues.zip.net
(Curso de Português)
www.megalupa.zip.net
(Jornal Megalupa)
Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 06/03/2012
Alterado em 10/03/2012