UM ESCRITOR MEMORÁVEL
Há 30 [50] anos, num 8 de julho de 1969, falecia o escritor Manoelito de Ornellas. Nascido em Itaqui, foi um luminoso homem das letras e da palavra. Poeta, ensaísta, orador, jornalista (foi cronista do Correio do Povo), sociólogo, ficcionista, administrador público, professor... Foram muitas as áreas em deu o toque de sua prodigiosa inteligência, sempre com seu estilo refinado.
Da vasta e fecunda obra do autor merecem registros diversos títulos. "Gaúchos e Beduínos" é um fluente e alentado estudo sobre a influência moura na nossa alma rio-grandense, transmitida pelos nossos colonizadores. "Tiaraju" é um romance das Missões sobre a lendária figura de Sepé Tiaraju, fruto da mesma seiva que inspirou Alencar com "Iracema" e Juan Zorrilla de San Martín com "Tabaré", poema épico sobre a gênese do Uruguai.
Na crítica, "Vozes de Ariel" e "Símbolos Bárbaros" lançaram luzes sobre a literatura gaúcha, inclusive descortinando novos autores, como o hoje imortal Carlos Nejar. Há, ainda, textos memorialísticos, como "Terra Xucra", sobre a infância em Itaqui, e "Mormaço", narrando sua passagem por Tupaciretã, a "terra da mãe de Deus". A terceira parte dessa trilogia, que seria "Estuário", sobre sua vida em Porto Alegre, não foi escrita porque a Indesejada das Gentes repontou sua alma para outras paragens.
Não bastasse a importância intrínseca de sua obra, vale lembrar que Manoelito de Ornellas articulou o lançamento de um jovem escritor, furtando-lhe um de seus contos e enviando-o para publicação na Revista do Globo. No final da década de 20, pelas suas mãos, assim se deu a estréia promissora de um autor chamado Erico Verissimo, que viria a ser o maior nome das letras rio-grandenses e um dos expoentes da geografia literária do Brasil.
O lançamento de Erico Verissimo é um ato ilustrativo da trajetória de um homem que foi sempre solidário com seu próximo. A literatura foi a forma encontrada de atingir o epicentro da alma humana, realizando a utopia do convívio fraterno. Sua obra, seu desprendimento e seu amor desinteressado pelas coisas do Rio Grande tornaram-no imortal, não obstante sabermos que a curta memória dos vivos não desvela além do véu do cotidiano.
Correio do Povo
Porto Alegre - RS - Brasil
PORTO ALEGRE, SÁBADO, 14 DE AGOSTO DE 1999.