Nasceram juntos os ventenas
na mais linda parceria
como a noite e o dia
como o sol e a lua
uma simbiose chirua
essência e elementos
fazendo os encadeamentos
na vida que se insinua
É coisa linda de ver
essa completa harmonia
não hay mágoa ou invernia
um nunca se aparta doutro
é o ginete e seu potro
o guri e o ariticum
a alegria de um
é a alegria do outro
Quem dera pintar o retrato
da vida que reverbera
se espraia a primavera
por toda a adjacência
é um florão na querência
um riso mui largo e ancho
que na soleira do rancho
é o ritual da descendência
Não há coisa mais promissora
quando esse rio dá vau
toda a água do caudal
sacia o ribeirinho
nenhum mal, nenhum espinho
corpo são em mente sã
o guerreiro e a cunhatã
o mundo abrindo caminho
Um dia, assim no mais
por "dá cá aquela palha"
o frio do fio da navalha
semeia um canto caipora
um quer se ir campo afora
o outro no mundo assento
este é chão, aquele vento
no estalido das horas
A alma se rebolqueia
ante o apelo supremo
e o corpo, que é terreno
e manicla da criação,
esporeia a vocação
de ficar nestas planuras
as almas são das alturas
os corpos, de plantação.
Do livro "Coletânea da Poesia Gaúcha", da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, 2005. Org.: Dilan Camargo.