CASTRO ALVES, NUNCA SE VIU UM POETA COMO ESTE
Faz alguns meses, fui assistir a uma palestra do escritor Alcy Cheuiche sobre o “almirante negro” João Cândido no ciclo “O autor e o livro”, promovido pelo Círculo de Pesquisas Literárias (Cipel), Academia Rio-Grandense de Letras e Memorial do Judiciário do RS. Na abertura, em arrebatada recitação, ele declamou os versos de “Navio Negreiro”, comovendo toda a assistência.
Castro Alves (1847-1871) é assim. Ele continua a emocionar e a seduzir plateias ao longo dos tempos com seus versos majestosos e contundentes. Em vida, foi um poeta que ombreou com as grandes causas que desafiavam a nação e as estruturas arcaicas e patriarcais da época. Não titubeou nunca em defender o fim da escravidão e a República, a modernização do país e a igualdade entre os homens. Foi um sopro de brisa nova a refrescar a mentalidade que sustentava um império e as mazelas de uma sociedade em que homens eram mercadorias de outros homens indiferentes.
Não só de causas sociais viveu a poesia de Castro Alves, mas de muitos amores, de mulheres como Idalina, Leonídia Fraga e Eugênia Câmara. De amores vividos e consentidos por entre os lençóis, sem o platonismo dos jovens vates do Romantismo, de musas inalcançáveis.
Castro Alves poetou e viveu em quatro estados: Bahia, Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro. Palmilhou o país como um cometa que cruza os céus para nunca mais ser visto, mas para ser lembrado. Sua marca de rebeldia e seus versos estariam para sempre impregnados nos anseios de justiça dos seus pósteros. Foi justo, foi grande, foi intenso. Suas metáforas condoreiras percorreriam os corações sensíveis em todo o país e alguns versos colariam no imaginário popular como insígnia poética (“Auriverde pendão de minha terra/Que a brisa do Brasil beija e balança (...)/Antes te houvessem roto na batalha/Que servires a um povo de mortalha!”).
A vida de Castro Alves é um legado para se fazer um país melhor todos os dias. São versos e exemplos imperecíveis que abrem velas rumo à liberdade.
Castro Alves, a poesia libertária
CORREIO DO POVO, PORTO ALEGRE, QUARTA-FEIRA, 14 DE AGOSTO DE 2013