POEMA DE NOVO ANO
Tu me chegas assim, maquiado,
com ares de velho conhecido
feito uma vidente que, às cegas,
insiste em ler o meu futuro
És como a estrela decadente
para a qual faço bem mais de três pedidos
nada como um dia depois do outro,
um ano depois do outro, nada, só resta o nada,
mas a ilusão é tudo
e então eu me perco em surradas esperanças
como o dia perde luz
diante da noite impaciente
Tu vens sempre, useiro e vezeiro
em disfarçar dias iguais
Sê bem-vindo, ano novo,
porque quando não vieres mais,
penso que a vida estará desfeita
e a concha do mundo
ouvirá em vão
Feliz Ano-Novo, novo ano,
ano novo! Inventa um sorriso em nós,
que já conhecemos tua artimanha
de sempre ser o mesmo.
Tu és novo ou já estou demasiado velho?
Enfim, o brinde é costume. E amigos antigos
podem entrar sem pedir licença.
Adiante, reponta o tempo que te cabe
nesse calendário que já nasce com os dias contados.