UMA LUZ CHAMAMECERA EM PORTO ALEGRE
Especial para Aguapey Notícias, de Corrientes, Capital, Argentina
Na sexta-feira, dia 9, por volta das 22h, e no sábado,dia 10, em torno das 18h, Porto Alegre, em pleno mês de setembro, quando se comemora o decênio da chamada Revolução Farroupilha e se realçam os valores culturais e históricos dos gaúchos rio-grandenses, a capital dos gaúchos foi sacudida por um aporte sem precedentes vindo de Corrientes. No palco central do Acampamento Farroupilha, a delegação chamamecera da vizinha província entoou diversos chamamés que encantaram o público, alguns conhecidos, como “Merceditas” (Sixto Rios) e Kilometro 11 (Aguer-Cocomarola), e outros clássicos ainda não conhecidos da assistência, mas que soaram como gratas surpresas.
A comitiva, que veio ao acampamento por convite do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) foi composta por grandes músicos, que fizeram questão de formar uma caravana para essa integração cultural. São eles Jorge Güenaga, Jorge Pelusa Canteros, Lucky Bentos, Pablo Melgarejo, Alfredo Echeverría, Carlos Villalba, Diego Villalba, Sebastián González, Diego Flores, Santiago Jacobo, Juan Pedro Sorribes, Marcelo Hernández, todos da cidade de Curuzú Cuatiá, Corrientes, à exceção de Lucky Bentos oriundo de Paso de los Libres, divisa com Uruguaiana. Os sons de guitarra, de violão, de gaita, de bandoneon e as vozes chamameceras percorreram a noite porto-alegrense às margens do Rio Guaíba para fixarem-se no coração dos presentes, que se reconhecem nesse gênero musical que nos irmana e nos faz vibrar na mesma sintonia sensitiva e emocional, como se velhas e antigas lembranças se reavivassem ao som de invocações fronteiras e avoengas.
Os músicos e cantores presentes cativaram o público não apenas pelo seu talento, mas pela entrega ao seu ofício e pela valorização e reconhecimento da amizade entre os povos. Todos, com sua verve artística, em seu desempenho, demonstraram um invulgar talento e domínio do seu instrumento. Sobretudo, mostraram compromisso com a arte e com o intercâmbio cultural. O chamamé, como gênero musical, tem em Corrientes sua gênese e daí ganhou o mundo para disseminar seu legado pictórico e emocional de aldeia viva. No coração do gaúcho, há um sapucai que abre um chamamé e um chamamé que abre um sapucai.
Está de parabéns o MTG por essa promoção, dissipando ranços que poderia haver em relação à musica de origem platina. Aguarda-se a continuidade do projeto. Para mim, que sou homem de fronteira, que me criei contemplando a paisagem correntina de Alvear e ouvindo chamamé nas rádios da região, bateu-me fundo assistir às duas apresentações da delegação chamamecera de Corrientes. São vivências que ficam para sempre e, mesmo quando a névoa da memória intuir desfocar o vital desses momentos lindos, um acorde chamamecero haverá de mostrar que esse encontro anímico realmente aconteceu e que ao chamamé coube unir dois povos pela linguagem universal da arte e da emoção.
Foto superior de Marcos Torres e Elisa Casceres seguida pela foto de Marcelo Antonio.