A filosofia contemporânea consolidou o legado antropomórfico posterior à Idade Média colocando o homem como o centro da preocupação filosófica. A fé ficou reservada ao campo da teologia, cabendo ao homem ser racional ao pensar sobre si mesmo, embora essa tarefa seja por demais complexa, uma vez que há tantas visões quanto há subjetividades dos pensadores, muitos respondendo ao mundo externo de forma completamente diferente.
Nietzsche buscou resgatar o potencial do homem livrando-o de suas amarras estabelecidas pelo cristianismo. Schopenhauer viu na ligação com a arte a catarse capaz de estabilizar o ser humano, vindo a sua força criadora e redentora a partir de si mesmo. Para Sartre e os existencialistas, a angústia das escolhas humanas permeia a existência de todos os homens. Para Kant, alguns juízos precedem os homens e outros, os juízos sintéticos, são a essência do seu aprendizado sobre o mundo em que vivem, numa correlação marcada pelo empirismo e não pelo idealismo, pois a interação com a realidade é um imperativo. Já Hegel dissecou a dialética do pensamento humano, observando sua evolução e sínteses constantes.
Esses pensadores observaram os homens do particular para o universal, cotejando-o com o seu meio, como se partissem da árvore para ver a floresta. Outros por sua vez, fizeram o caminho inverso, visualizando a floresta, o coletivo, para chegar ao homem, ou vendo-os de forma concomitante, numa relação sincrônica e totalizante.
Nessa forma mais coletiva de busca da essência humana, vamos encontrar a Escola de Frankfurt, que teve como intento desvendar o matiz ideológico dado aos bens culturais dentro do capitalismo. Também podemos citar Karl Marx, para o qual o destino de cada ser humano é dado pelo papel de sua classe social dentro da esfera de produção e apropriação das riquezas, bem como o de Augusto Comte, para o qual o conflito entre as classes sociais tende a ser resolvido pelo progresso econômico. Para Habermas, esses conflitos se resolvem dentro de uma semântica apropriada para estabelecer o diálogo entre os diversos atores sociais e políticos. Não podemos esquecer que o segundo Wittgenstein também evidenciou o papel determinante da linguagem como mediador das intersubjetividades.
Em todos os casos supracitados, podemos ver que a racionalidade se faz um traço comum entre todos os pensadores, o que não garante a veracidade de suas conclusões, mas que se mostra como um item afinado com uma fase da filosofia em que a mitificação deixou de ser bem vista, como na exegese divinizada de um Santo Agostinho ou de um São Tomás de Aquino. O homem nu e cru, retratado em seu contexto social e político, prenhe de dúvidas e de possibilidades, é o personagem central no enredo traçado pela filosofia contemporânea. Sua espiritualidade, muito mais do que fruto das suas crenças, é resultado de uma angústia de uma era tecnologia e veloz que lhe solapa valores e certezas.