EU SINTO MUITO
Você lembra, lembra!
Daquele tempo
Eu tinha estrelas nos olhos
Um jeito de herói
Era mais forte e veloz
Que qualquer mocinho
De cowboy…
(“Sapato velho”, Mu-Claudio Nucci-Paulinho Tapajós)
Antes de ti, eu era tábua rasa
quase folha trêmula
um coadjuvante, um feirante sem tato
Um chiste vazio
Quando me fizeste vibrar
na luz invadindo minhas cavernas
eu pude ver o que nunca vira
o que jamais entendera
Graças a ti, eu pude evitar de ser
do jeito que me haviam destinado
trivial, parco, venal, aldeão sem aldeia
silhueta triste, madeira sem verniz
Caminhamos juntos tanto tempo
na rebeldia que polia luzes
estrado do meu ofício
de existir para contar e depor
Com tantos descaminhos ao redor
tu me deste um norte, uma causa
um mote de vida, uma quimera
dessas que se acorda para viver
E agora isso, essa orfandade
esse resto de um rosto jovial
um sonho desfeito, esse desenlace
com gosto de adeus
Eu sinto muito
Não pensei que tanto
seria tão pouco, que o amor febril
iria fenecer
Diz meu outono à minha primavera:
"Jamais imaginei que fosse assim".
Aqui nossos caminhos se bifurcam
Tu singras, eu sangro por aí.