ESSA TAL DE LEI SECA
Após semana de lida
Me vou ao baile da Assunta
Toda a bugrada do pago
Nesse estrupício se junta
A bailanta é de bolante
Dessas que mudam de céu
As chinocas são ladinas
De não aceitar sovéu
Os clinudos estão à solta
Desempenados na dança
O trago que vai e vem
Chega a escorrer pelas panças
Tem vinho e canha da braba
Até pizza com sardinha
Me atraco no tinto seco
Tenteando uma moreninha
Lá fora, o meu cavalo
Reclama da lichiguana
Então eu dou pinga ao pingo
Que se alegra com a cana
Volto pro entrevero e danço
Ao som do gaiteiro nato
Quem nunca foi a um fandango
Não é gaudério de fato
A coisa correu assim
Tudo que é bom se abrevia
Metade da madrugada
Findou a algaravia
Dei pra prenda as coordenadas
Montei de pronto e larguei
Quando andei algumas léguas
A comitiva bombeei
Vi que os tais eram do povo
Quiseram me fazer exame
Com um treco de pôr na boca
Recusei esse vexame
Analisaram o cavalo
Que também tava tanqueado
"O senhor vai, ele fica"
Pois está embriagado
Para completar o acinte
Além dos goles da pura
Viram defeitos no bicho
No item da ferradura
Levaram minha montaria
Pra baia de um tal Detran
Com os arreios a pezito
Fui adentrando a manhã
Cheguei ao rancho estropiado
Numa tremenda ressaca
Quando der, tiro o matungo
Vão me esvaziar a guaiaca
Até lá, com essa treta
Num mundo que anda de ré
Vou palmilhando as desonras
De mais um gaúcho a pé.
Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 31/08/2019