MEU CHIMARRÃO
Meu chimarrão é arraigado
Na memória deste pago
Sabor que traz de outrora
Gauchadas de índio vago
Intervalos de recontros
E recônditos afagos
Velha seiva avoenga
Infusão do meu pensar
Quando te cevo e te sorvo
Sinto o gaúcho a pealar
Na changa, o gado altivo
Das “vacarias del mar”
Madrugada, uma estrela
Surge amadrinhando a lua
Fico olhando esse balé
Visível na pampa nua
Onde foste o desejum
De um intrépido charrua
Teu ritual vara o tempo
Encadeando os afetos
Um pai mateia com o filho
Que há de matear com seu neto
Tu és parceiro nas mágoas
Dos corações irrequietos
Até nalgum lupanar
Tu traquejaste com brilho
Pro taura que te bebia
Entre a canha e o idílio
Foste o tirão de saudade
Dalgum gaúcho no exílio
Num namorico de maio
Uma mão a outra encerra
Tão delicado e profano
Teu ronco é o touro que berra
Ou a transfusão de sangue
Do índio morto na guerra
Dedico este chimarrão
À memória do meu pai
Enquanto intumesço a erva
Ouço ao longe um sapucai
E o sol reluz num dourado
Aos corcovos no Uruguai.