PORTO DE TODOS NÓS
O poeta Mario Quintana já questionava sobre a melhor maneira de levar consigo os céus de Porto Alegre. O mesmo se pode dizer do seu magnífico pôr do sol.
Porto Alegre faz jus ao nome por ser porto de todos nós. Quando menino, estudante em Itaqui, eu tinha um caderno com a Ponte do Guaíba na capa e sonhava conhecê-la. Já adolescente, ansiava vivenciar as maravilhas divulgadas por uma publicação do jornalista Ayres Cerutti.
Um dia, como sói acontecer com milhares e milhares de interioranos, aportei na Capital cheio de planos e de projetos, sendo o principal deles sobreviver nestas plagas. Foi neste cenário que pude dar vazão aos anseios mais intrínsecos, como se o tempo vindouro fosse um filme que se queria ver o final. Hoje, com esse passado já conhecido pela frente, o que resta é um olhar de gratidão sobre uma cidade que, por ser gaúcha e hospitaleira, nunca negou o estribo aos seus imigrantes.
Nesta urbe provinciana, fiz amigos, estudei, trabalhei e pude constituir um universo afetivo que me circunda diariamente. E esse encantamento não é apenas meu, mas de muitos que cantaram e cultuaram esta terra. Assim se deu também com o meu conterrâneo Manoelito de Ornellas, que foi colhido pela Indesejada das Gentes quando escrevia “Estuário”, obra inteiramente dedicada a Porto Alegre e que restou inacabada.
Dentro do possível, também procurei, modestamente, contribuir com a terra que me acolheu. Foi assim que atendi à demanda dos saudosos Arnaldo Campos e Joaquim José Felizardo para estruturar as atividades iniciais da Secretaria Municipal da Cultura, um órgão sem dotação orçamentária na época. Esse era um tempo de apostar e o resultado está aí, no panorama cultural porto-alegrense.
Hoje, Porto Alegre comemora mais um aniversário e isso é motivo de gáudio para todos nós. Continua afável, moderna, bucólica, regional e universal. Em suas ruas, no seus casarios, nas edificações que despontam no horizonte, ela se projeta ao futuro amadrinhada pelo Guaíba, que para mim é rio.