"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
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     O PAINEL DE CLÉBIO SÓRIA
     Uma das vantagens de ser mesário nas eleições é que, mais cedo ou mais tarde, vai passar alguém famoso por nossa seção, afinal, esse processo comporta poucas exceções. No meu caso, quando colaborei com a Justiça Eleitoral, não foi diferente. Nos anos 80, era inscrito na seção 107 do Colégio Protásio Alves, na Capital, o artista plástico bageense Clébio Sória (1934-1989), que, a par do meu tio José João Maria de Azevedo, uma celebridade no âmbito da nossa família, é um daqueles votantes de que eu me lembro como “nossos eleitores”. Quando eu o identificava como autor do imenso painel da Trensurb, percebia seu contido orgulho pela minha felicitação.
     O artista Clébio Sória tem uma grande obra marcada por temas que os especialistas dividem como ligados ao folclore, ao circo, ao nu feminino e à religiosidade. Uma das realizações mais grandiosas é o referido painel da Trensurb, de 1986, na avenida Mauá, no centro de Porto Alegre. Ali estão assuntos históricos do Rio Grande do Sul, como as guerras, as missões, as lendas, o decênio farroupilha, os heróis. Trata-se de 450 m², dividido em 17 painéis, englobando fases distintas da cultura gaúcha e da evolução do Estado ao longo dos séculos. 
     No início dos anos 2000, esse precioso mural estava em processo de degradação, seja pelo desgaste natural, seja por não ter proteção contra vândalos. A empresa, com o apoio de uma instituição financeira, contratou a artista plástica Leila Sudbrack para a restauração e realizou o providencial cercamento da área. Foi uma novo fôlego para um monumento artístico de grandes proporções e isso foi decisivo para sua preservação.
     Todavia, como a passagem do tempo no varejo é tão destrutiva quanto no atacado, tudo indica que o painel de Clébio Sória está exigindo uma nova intervenção visando a recuperar sua vivacidade e a garantir sua necessária integridade e valor histórico. O criador deu o melhor de si nesse trabalho de monta porque se sentia recompensado ao saber que o povo poderia contemplá-lo sem mediações e burocracias. Resta agora atender seu desejo e eternizar seu mister nesse que é um presente sem igual para todos os gaúchos e para todos aqueles que admiram sua arte.

 

Publicado no jornal Correio do Povo, em 20.12.2021, p. 2.

Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 16/12/2021
Alterado em 20/12/2021
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