VIAJANDO SEM VIAJAR

     Não há uma única forma de acumular vivências. Alguns preferem viajar para lugares distantes, outros descobrem formas metafísicas ou transcendentais para se depurar. Há quem aposte na culinária e quem prefira medir seu êxito na vida pelo quantificação de bens naturais. Como diz aquela máxima elucidativa, "não há o que não haja".
     De minha parte, gosto de livros, de ideias, de um bom debate e de pessoas. E cidades também, mas não de cidades no sentido de visitar para estatísticas, mas de tentar sondar a alma daqueles que nela moram. Por falar em pessoas, lembro-me de uma frase lapidar do músico e compositor argentino Facundo Cabral: "Me gusta la gente simple / Aunque yo soy complicado". Pessoas são "personas", com toda uma história personalíssima, sem querer ser redudante. E é isso que nos cabe descobrir. Já dizia Jorge Luis Borges que encontrar um personagem é encontrar um destino. Ou como diz aquele provérbio africano que afirma que quando morre uma pessoa é como se toda uma biblioteca se incendiasse. 
     Pois é, para estar mais perto dos meus parcos e valentes leitores que inicio esta coluna. Em minha mente, o caudaloso rio Uruguai do meu Itaqui e as descobertas do rio Guaíba, que muitos querem lago para melhor depreciar. Em tudo isso, as pessoas, sempre elas, a transmitirem suas histórias, que nos ensinam a alcançar a humildade, unidos nas vicissitudes. Ser virtuoso é motivo para festa de gala, ser humilde é mais difícil e não gera comoção, talvez um abraço de amigo numa periferia da urbe. Sigamos nessa viagem cotidiana em que as paisagens podem ser rudes, podem ser catárticas. Mas viajar no universo humano é sempre o melhor roteiro de travessia.

Jornal Nova Folha, Guaíba-RS, em 8.4.2022, p. 7.