O HOMEM QUE ENSINAVA A PENSAR
Antes de Sócrates (470-399 a.C.), a filosofia ocidental já havia tido um avanço com diversos pensadores que buscavam dar uma explicação sobre o universo a partir de suas observações, não aceitando mais explicações lendárias ou fantásticas. Mas eles ainda não haviam tomado como foco o ser humano e suas interações com esse mesmo universo em sua singularidade de vários vieses, tanto espacial como temporal. Foi ele que focou na importância de cada indivíduo saber mais sobre si mesmo, sobre os outros e sobre o seu entorno, ainda que esse conhecimento seja, na prática, impossível de ser atingido. Tanto é assim que, quando o oráculo o apontou como o homem mais sábio da Terra, sem modéstia, ele retratou a si mesmo como um rematado insipiente.
Mas o que fez Sócrates que o tornou revolucionário para o seu tempo? Ele chamou a atenção para o fato de que o homem tem que, além de conhecer, saber conhecer, descartando falsas premissas que o envolvem no manto da ignorância. Seu conselho mais célebre é “Conhece-te a ti mesmo” e seu método da maiêutica fazia seu interlocutor raciocinar sobre suas próprias afirmações, mostrando-lhe as limitações de seus conceitos. Como quando questionou a um general amigo sobre o que seria a coragem e ele, que num primeiro momento respondeu sem titubear, foi sendo demolido pela lógica desconcertante de Sócrates.
Uma das frases mais famosas do filósofo é “Só sei que nada sei”. Num tempo de redes sociais, em que os mais ignaros perderam todo o pudor e estão opinando a torto e a direito, com falácias travestidas de argumentos e observações pueris, Sócrates faz muito falta para reordenar um mundo plano e pleno de estultices. Patriotadas, patacoadas e poltrões estão em ordem unida.
Jornal Nova Folha, Guaíba-RS, 24.6.2022.