"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
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O HINO RIO-GRANDENSE E O MAESTRO CATIVO

     Há algum tempo, eu inventei de postar em uma rede social, mais precisamente no grupo Pampa sem Fronteira, com mais de 340 mil integrantes e dirigido pelos meus queridos amigos Marcos do Pampa e Neu do Pampa, que o hino rio-grandense traz em si o óbice de, embora pretendendo simbolizar a liberdade, ter sido composto por um maestro cativo e coagido, Joaquim José de Mendanha (1801-1885). Ele foi aprisionado pelos farroupilhas numa batalha contra os imperiais em Rio Pardo, em 30 de abril de 1839, só vindo a ser libertado no ano seguinte. A “pedido” do general Bento Gonçalves, compôs a melodia do hino rio-grandense, que viria a ter três letras, sendo a atual de autoria de  Francisco Pinto da Fontoura, poeta conhecido como Chiquinho da Vovó.

     Foi muito interessante a enxurrada de críticas e até de “correções” que recebi, como se eu não soubesse coisas óbvias, como que melodia e letra são coisas distintas. Mas isso não me causa espécie num país e numa província tomada pela mediania, com gente que não gosta de estudar, mas gosta de opinar a torto e à direita. Ocorre que eu não me ative ao texto nem à melodia, mas questionei o fato de que uma obra criada em meio a uma prisão por um detido pudesse ser escolhida para representar a liberdade de um determinado contingente populacional.

     Como se sabe, é mais fácil ter consenso sobre o futuro do que sobre o passado, pois as narrativas e as idealizações vão disputando espaço com os fatos e com os estudos científicos da história, que tem método e objeto. Muitas coisas os ideólogos cetegistas vão tentando esconder, como o contexto do hino, o Massacre de Porongos e a degola de 1893-1895. E nisso são seguidos pelos leigos, que precisam ter um memorial afetivo, ainda que inventado, para chamar de seu. O hino foi expiado de seu contexto e idolatrado e, ao final, fica a lição de que a mão que aprisiona pode ser a mesma que afaga o criador.

 

Jornal Nova Folha, Guaíba-RS, 5.8.2022.

 

Para ler o PDF da versão impressa, clique abaixo:

https://rl.art.br/arquivos/7575302.pdf

 

Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 05/08/2022
Alterado em 05/08/2022
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