"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Textos

     PEDRO ORTAÇA, UM MISSIONEIRO IMPRESCINDÍVEL

     Há algum tempo, chamou-me a atenção num documentário sobre Noel Guarany a omissão do nome de Pedro Ortaça na trajetória daquele grande e pioneiro artista. Até mesmo Alceu Collares, um negro historicamente indulgente com a Casa-Grande, foi convidado para dar um depoimento. Pedro Ortaça, Jayme Caetano Braun, Cenair Maicá, junto com Noel Guarany, conformaram o núcleo que instituiu a música e a cultura missioneiras como uma vertente fundamental do nosso memorial coletivo.

     Repare-se que a denominação música missioneira faz parte de uma temática construída, já que os índios aldeados nos Sete Povos nunca fizeram música com temas próprios. Foi a sagacidade destes pioneiros que conseguiu vislumbrar um novo filão para a criação de melodias e, assim, numa fusão com outros ritmos do Rio da Prata e seu entorno, eles souberam encontrar uma estética que oxigenou o acanhado meio sociocriativo do Rio Grande do Sul.

     Esse trabalho de resgate das raízes é um labor essencial numa sociedade marcada pela venalidade e pela mediania. De tempos em tempos, surgem os homens e as mulheres que mexem com as águas paradas da província. A denúncia do genocídio dos povos indígenas, como na música de Cenair Maicá, “Balaio, lança e Taquara”, letra de Apparicio Silva Rillo (“Vão os índios pela estrada como aguapé pelos rios//Cantam ventos tristes nos seus balaios vazios”), mostra um compromisso social que não são quaisquer cantadores que têm.

     O gaúcho ancestral morreu pelas mãos das estâncias e do agronegócio. Seu sucessor, o peão, foi devidamente domesticado para servir de mão de obra pastoril. Já os verdadeiros donos da terra foram dizimados e suas verdades estariam perdidas, não fossem as vozes dos cantores missioneiros que as acolheram. Por isso, eles não “pedem bexiga pra patrão nem pra milico”, como escreveu o poeta Vaine Darde e cantou Pedro Ortaça.

 

Jornal Nova Folha, Guaíba-RS, 26.8.2022.

 

Para ler o PDF da versão impressa, clique abaixo:

https://rl.art.br/arquivos/7591044.pdf

Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 26/08/2022
Alterado em 26/08/2022
Comentários
Eventuais recebimentos