"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
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Textos

     A PROFESSORA QUE ME ENSINOU A LER

     No discurso em que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, em 2010, na Suécia, o escritor peruano Mario Vargas Llosa declarou que a coisa mais importante que lhe aconteceu na vida foi aprender a ler. Não é difícil intuir por quê. A leitura ilumina lugares então inacessíveis para nós e retira a venda que nos impede de entender esse mundo mundinho em que vivemos. Comigo não foi diferente.

     No início da década de 70, eu era um guri de periferia vivendo em Itaqui, uma pequena cidade do Interior do RS. Fui matriculado no primeiro ano de uma escolinha chamada Castelo Branco, que funcionava nas dependências do quartel local. Foi nessa escola que comecei a decifrar o universo das letras, a mais poderosa ferramenta de transmissão de cultura já criada pela humanidade. E a pessoa que me adentrou nessa comunidade especial em que cada um pode escrever e ser leitor, tornando-se a cada dia mais detentor de conhecimentos, foi a professora Terezinha Santos (foto), que vive na minha terra, desfrutando do afeto de sua família e amigos e de sua merecida aposentadoria. Por aprender a ler, pude ser redator, professor, advogado e cumprir outras tarefas. Em cada atividade da minha vida, sempre esteve e sempre estará a marca indelével da mestra Terezinha (ou Tetê, como também é conhecida), feito um incentivo, tal um tema de casa que se tornou um tema da existência, como um regozijo pela leitura com início, meio e fim. Na minha carreira no magistério, aprendi que também nos tornamos responsáveis por nossos alunos, ainda que eles não nos peçam nada. E essa afeição desinteressada é própria de quem acredita que as crianças e os adolescentes podem fazer todas as diferenças.

     Este é um texto de agradecimento. Há uma frase corriqueira que diz que o professor e a professora estão na base de todas as outras profissões, de todas as outras escolhas. É uma verdade irrefutável. Lembro as palavras do poeta espanhol Antonio Machado: "Caminante no hay camino, se hace camino al andar". A professora Terezinha é uma presença marcante na minha caminhada de buscas e de epifanias. Toda a minha gratidão ainda é pouca diante da sua paciência em me polir para que eu pudesse ter melhores armas para lutar na arena da vida.

 

Jornal Nova Folha, Guaíba-RS, 9.9.2022

 

Para ler o artigo na versão impressa, clique abaixo:

https://rl.art.br/arquivos/7607651.pdf

Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 07/09/2022
Alterado em 17/09/2022
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