"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
"Somente buscando palavras é que se encontram pensamentos" (Joseph Joubert)
Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Textos

GUAÍBA: O CASO GABRIEL E O CASO MANOEL

     Muitas vezes, quando falamos em direitos humanos, as pessoas, de um modo geral, pensam que estamos falando de privilégios para foras da lei. Não é verdade. Trata-se da normatização de como  uma pessoa deve ser tratada pelo poder público em qualquer situação, mesmo que na de acusado, sem que tenha violada sua integridade física e psicológica, o que não significa deixar de responder por suas condutas.

     Essas mesmas pessoas, numa credulidade infantil, acham que estão a salvo, por exemplo, da truculência policial porque são honestas. Nem sempre funciona. Essa truculência, em tempos de autoritarismo, como já tivemos na nossa história, se dissemina a ponto de ninguém se poder dizer imune a ela. Antigamente, quando se tratava de um preso político, também se dizia que era um terrorista. Terrorista pode morrer? Pode. Terrorista pode ser torturado? Pode. E se isso contrariar os direitos universais dos cidadãos? E se não for um terrorista? Alguém pode garantir por antecipação?

     Toda essa reflexão me vem a propósito de dois casos que envolvem Guaíba e duas vítimas. Em 11 de março, o ex-sargento Manoel Raymundo Soares foi preso em Porto Alegre, acusado de subversão. Levado à Ilha do Presídio, foi trazido de volta à Capital meses depois, em 13.8.1966. Apareceu morto em 24.8.1966, com as mãos amarradas, boiando no rio Guaíba.

     Estava em poder dos agentes do Estado desde sua retirada da fatídica ilha.

     Por sua, vez o guaibense Gabriel Marques Cavalheiro, de 18 anos, sumiu em 12.8.2022, logo após ser levado por policiais militares, conforme provas irrefutáveis. Foi encontrado morto num açude em São Gabriel.

     Estava em poder dos agentes do Estado desde sua retirada das proximidades de uma residência naquela cidade.

     Essas duas ocorrências dizem muito sobre o mito de que a Polícia nos defende quando ataca bandidos. Na verdade, com eles ela só aprimora seus métodos, que pode usar contra qualquer um.
     É por isso que temos que desmilitarizar as forças policiais. O policial, em si, é um trabalhador comum, mas tem uma formação de capitão do mato. Ganhamos com isso?

 

Jornal Nova Folha, Guaíba-RS, 7.10.2022

 

Para ler a versão em PDF, clique abaixo:

https://rl.art.br/arquivos/7621885.pdf

 

Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 06/10/2022
Comentários
Eventuais recebimentos