O DEBATE SEM HONESTIDADE
Na época do regime militar, uma de nossas bandeiras era o fim da censura. Contávamos que, com mais subsídios para embasar sua opinião, as pessoas poderiam formar melhores juízos e, assim, exercer com maior efetividade sua cidadania. O fato é que as coisas não se deram bem assim.
O que se pode verificar é que, com mais informações circulando, as bolhas opinativas se formaram e elas prescidem de leitura ou de reflexão. Basta uma motivação exterior que as galvanizem e elas estão lá, frivoladamente, expondo argumentos pueris e descolados da realidade. As adjetivações são as mais variadas e não há nenhuma preocupação em elencar fatos. Apesar da denominação já preexistente de “notícias falsas” em português, ganharam a conceituação de “fake news”.
Por meio dessas notícias sem veracidade, ficamos “sabendo” muitas coisas. Que não houve golpe militar nem tortura no Brasil, que o país está crescendo como nunca na economia, que foi o método Paulo Freire que desgraçou a educação nacional, que o STF está contra a Constituição, entre muitas pérolas que se disseminam numa velocidade sem igual. Também há contradições evidentes. Os mesmos que dizem que a Justiça é morosa, ficam incomodados quando o TSE decide questões, num período eleitoral curto, com a devida celeridade. Decerto queriam uma tramitação com petição inicial, contestação, réplica, dilação probatória, agravos, sentença, embargos declaratórios, apelação, entre outros itens, o que faria que os fatos das eleições de 2022 só fossem julgados por ocasião das eleições de 2026.
Como já escrevi anteriormente, as premissas de cada um baseiam-se em seus interesses. Como tais interesses costumam ser de baixa hombridade, haverá uma contaminação evidente quando as falas falsas se espalham como o canto dos galos nas manhãs. E não faltará quem as reproduza, quer por ingenuidade, quer pela maledicência natural dos sacripantas.
Jornal Nova Folha, Guaíba-RS, 21.10.2022.
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