"Como dois e dois são quatro/Sei que a vida vale a pena/Embora o pão seja caro/E a liberdade pequena" (Ferreira Gullar)
Landro Oviedo
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UM APORTE SOBRE OS TROTSKISTAS DE PASSO FUNDO     

     Certa feita, o então vereador de Porto Alegre Antonio Hohlfeldt (PT) foi fazer uma atividade em Passo Fundo e, na camaradagem, vários militantes de esquerda, entre eles, eu, foram jantar com ele e fazer as vezes da casa. Em certo momento, ele afirmou que a direção estadual do PT deveria se debruçar sobre o caso da Convergência Socialista na cidade para entender por que o grupo tinha tamanha influência nesse município tão importante. E era mesmo desse jeito. Havia varrido vários pelegos dos sindicatos, dirigia bancários e comerciários, comandava o PT nas eleições por estar, na época, na legenda, influenciava os movimentos sociais da região e assim por diante. O mesmo não se repetia em outros municípios do país, com exceção de São Carlos (SP). Isso gerou uma rica experiência que passava não por ser periférico em relação à política implementada pelas organizações da classe trabalhadora, mas por fazer parte de sua elaboração e implantação.

     Muita gente se fez essa pergunta de Antonio Holfeldt, inclusive nós, que fizemos parte daquele contingente que atuava no cotidiano passo-fundense. E isso marcou profundamente nossas vidas e nossas escolhas e engajamentos posteriores. Eu, por exemplo, saí de lá para atuar em Porto Alegre, com breves retornos a Passo Fundo, para atuar na cultura e no movimento estudantil, inclusive como partícipe da fundação do DCE das Faculdades Porto-Alegrenses. Fizemos uma transição entre a ditadura militar, que combatemos dignamente, e um período de maior democracia consentida.

     Para tentar dar uma possível resposta sobre o que fomos naquele período em uma cidade interiorana do RS, está saindo o livro "A Convergência Socialista em Passo Fundo", organizado pelo historiador Edemar Fisch, que também fez parte daquela geração, marcada também pelo último levante gaúcho, a Revolta dos Motoqueiros, quando a Brigada Militar matou pelas costas o jovem passo-fundense Clodoaldo Teixeira, em 5.2.1979. Além desse fato prévio, a obra traz outros tantos relatos de ocorrências da época, bem como fornece subsídios e verbetes dos protagonistas dessa micro-história do trotskismo em plagas gaúchas.

     O livro retira do esquecimento um pouco da memória coletiva sobre a luta dos trabalhadores no período relatado e mostra que os ‘troskos” de Passo Fundo fizeram a sua parte para serem dignos da interpelação do poeta Allen Ginsberg no poema “América”: “Quando merecerás teu milhão de trotskistas?”. Estamos longe disso, mas já contribuímos com centenas, talvez milhares deles, por certo.

Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 04/07/2024
Alterado em 04/07/2024
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