Tenho lido muitos sonetos ao longo da minha vida e, de alguns, algumas frases esparsas nos grudam como carimbos poéticos. Quem não se lembra de vez em quando de “Amor é fogo que arde sem se ver”, de “De repente, do riso fez-se o pranto” ou de “Ó, tu, que vens de longe, ó, tu, que vens cansada”? São verdadeiras ourivesarias dos versos, imagens sonoras antológicas que nos remetem a uma dimensão lírica sempre antiga e, ao mesmo tempo, sempre ressignificada.
Pois bem, o soneto que vou mostrar a vocês é da lavra do poeta passo-fundense Ubiratan Porto, recentemente falecido, que também já morou e atuou em Porto Alegre como advogado e ativista cultural e em Capão da Canoa. Está no livro “O voo do visor”, de 1981. Para mim, é um dos mais lindos sonetos já escritos na língua portuguesa. Qualquer coincidência com os grandes vates da última flor do Lácio não é mera coincidência. Mas também não é mera semelhança.
SONETO DE DESAMOR
Não falar de amor... nem por amor buscar
Que amar não é o fim, mas o meio e traga
A ilusão e a inocência, qual a vaga
De um coração por tenebroso mar.
Não lembrar de amor... embora em dor a paga
Seja o sonho irreal da solidão e no olhar
Outros olhares seu alento façam orar:
Que por um seio amigo nunca um ser naufraga.
Não lamentar... apenas salmo de tristeza
Reter na alma o acalanto da ternura e mudo
Velho anseio no amanhã por uma nova amada;
Simplesmente passar... e por amor, sem surpresa
Ver que ele já pousou na vida (quem sabe o tudo)
Ou nunca existiu... para morrer (talvez de nada!)
Os governantes brasileiros parecem viver num mundo particular, no qual imperam suas próprias leis de vida abastada, gastando o dinheiro do contribuinte de forma acintosa. A coluna de Clésio Boeira, a seguir, trata de dois casos que mostram a essência dessa elite. Dilma (PT) voa lá, Sartori (PMDB) voa aqui. O céu é de brigadeiro para eles, o cotidiano é de privações para a maioria do povo brasileiro.
Dilma usa helicóptero para se locomover em Brasília
Enquanto o governo do Chile congela os salários da presidente Michelle Bachelet, ministros, deputados, senadores e líderes regionais (teriam reajuste de 4,5% em dezembro) e políticos da Suíça e da Suécia se utilizam de trens, diariamente, além de aviões de carreira para viagens longas, a presidente Dilma Rousseff usa helicóptero para se locomover em Brasília.
Sem dar exemplo pessoal de austeridade, diante da crise que já tirou o emprego de 1 milhão de pessoas e levou milhares de empresas à falência, Dilma exige um helicóptero – aquele mesmo que solta labaredas – para ir do Palácio da Alvorada (onde mora com todas as despesas pagas) até a Base Aérea de Brasília, distante 13 quilômetros em linha reta.
De acordo com a coluna Expresso, do jornalista Murilo Ramos, na revista Época, o custo/hora do deslocamento dessa natureza é mais caro, de 12 mil reais, porque a pequena distância não oferece tempo suficiente para a aeronave ganhar altitude e desativar os trens de pouso.
Caso se programasse melhor, Dilma poderia optar por carro, com direito à escolta. A economia de dinheiro público seria bem-vinda em tempos de cortes. Nas pesquisas de popularidade, Dilma voa baixo, mas, nas “viagens”, está por cima.
Helicóptero de Sartori
Em fevereiro, o governador José Ivo Sartori foi criticado por pregar união para enfrentar a crise financeira gaúcha, na abertura da colheita do arroz, em Tapes, e, em seguida, voar de helicóptero para um compromisso político em Capão da Canoa, depois de ter utilizado a aeronave para ir de Porto Alegre a Tapes.
A conexão Porto Alegre-Tapes-Capão da Canoa, feita uma única vez, ao custo de 13 mil reais para os cofres do Estado, escandalizou alguns jornalistas. O uso contumaz pela presidente do Brasil, país em crise também, para andar 13 quilômetros em Brasília não sensibiliza os mesmos profissionais. A notícia não mereceu sequer uma linha aqui na província. (Clésio Boeira, jornal O Sul, 28.9.2015)
"Governos falidos não investirão em estradas. Se é para a segurança, que voltem os pedágios", escreve a colunista Rosane de Oliveira (ZH, 25.9.2015). Mas que parcialidade! (Ou seria "Mas que barbaridade!?"). Ora, por que o povo, que está falido, tem que pagar duas vezes por algo que ele já paga com altos tributos? E quantos quilômetros podem ser restaurados por ano com a verba da pensão para ex-governador? E com os salários dos CCs? E com a remuneração dos nomeados sem concursos para o cargo vitalício de conselheiro do Tribunal de Contas? E com as diárias dos deputados estaduais, tanto da base do governo como da oposição? Um pouco de moralidade faz bem à saúde, ao jornalismo e às estradas.
Programa produzido e apresentado por Landro Oviedo. Ênfase na obra de autores, escritores, poetas, músicos, compositores e cantores do RS sem deixar de considerar a arte brasileira e latino-americana. Boa oitiva a todos.
Destaques do programa: Capitão Furtado, Téo Azevedo, Ramiro Barcellos, Martín Coplas, Prof. Massaretti, Valdir Garcia, Leyde e Laura, Malando e sua orquestra, Marianito Mores, Ivo Pelay, Francisco Canaro, Assis Angelo, Biro Biro e Claudinho.
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Leia nesta edição: // - A falsa dívida de um Estado falido com uma União usurpadora // - Telefonia: operadoras reclamam de perdas // - Caderno de Notas (REGIME MILITAR, CARGOS PÚBLICOS, ELEVADORES, EX-GOVERNADORES) // - Na mão-grande / Dilma Rousseff rima com CPMF // - Lançamento – prefácio da obra / A voz do Tango em Porto Alegre
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